11 SETEMBRO 2022
11/09
Para fazer uma breve reflexão sobre a velocidade e efeito erosivo do tempo, parto hoje de uma publicação minha, no Facebook, feita em 11 de setembro de 2011:
Peço emprestadas as palavras de José Saramago para fazer uma reflexão sobre este dia:
"A expressão vocabular humana não sabe ainda e provavelmente não o saberá nunca, conhecer, reconhecer e comunicar tudo quanto é humanamente experimentável e sensível.
Justamente por não ter essa expressão, calo-me.
Faço um minuto de silêncio pelos mortos inocentes.
Mas o meu silêncio é um grito por justiça para os criminosos que ainda hoje estão impunes”.
Logicamente vocês devem ter recordado, caso não tivessem lembrado até este instante da tragédia que foi este dia no ano de 2001. Eu estava indo para cumprir a parte da tarde de meu ofício de professor, quando escutei na TV do bar pelo qual tinha que passar na ida e na volta, que as Torres Gêmeas haviam sido atacadas. Estavam lá na tela da TV as duas torres do WTC (Word Trade Center) em chamas, atingidas que foram por dois aviões comerciais.
Foi enorme a “Novela das torres”. A Quantidade de mortos no local que eu nunca vi ninguém chorar por elas; o significado da derrubada de um dos símbolos mais representativos dos EUA; os segredos que envolveram o fato, dentre eles o desaparecimento de um Boeing que dizem ter atingido o Pentágono, mas do qual não ficou nem a cor da tinta do nome da companhia aérea ficou agarrada nas paredes que dizem ter sido implodidas pelo choque. O pior, contudo, estava escondido no óbice que os americanos queriam atingir com tal façanha: arrumar um motivo para declararem guerra ao Iraque e buscarem a morte de Ossama bin Laden, grande terrorista que os próprios estados unidos treinaram e armaram para que ele combatesse seu irmão de crença a serviço dos “States” na conquista do ouro negro.
O desdobramento dos fatos levou anos a ser concluído de forma a que os fatos correspondessem aos atos, mas finalmente se comprovou que para essa gente os fins justificam os meios, neste caso, não foram tomados em linha de conta nem o valor da vida das vítimas dentre a sociedade local, nem o valor fiduciário atribuído aos imóveis e móveis perdidos. De resto, o meu compatriota José Saramago disse, muito melhor que eu, do sentimento que vai no coração de todos aqueles capazes de ver através da cortina de fumaça que nos lançaram aos olhos para, impunemente, cometerem um dos crimes mais horrendos que certamente marcarão o século XXI.
Já lá vão, portanto, 21 anos, mas quantos de nós lembramos, neste dia, desse trágico aniversário? Eis a ação erosiva do tempo: apagar, pouco a pouco, as imagens terríveis transmitidas para todo o mundo como álibi para o que se seguiria. Não é culpa nossa se esquecemos facilmente as ocorrências que diretamente não nos atingem. Não podemos, porém, esquecer que esses atos de verdadeiro terrorismo praticados por quem se diz mensageiro da paz mundial impactaram nossas vidas de uma forma tal que de lá até esta data, o velho planeta terra não voltou a ter seu ritmo restabelecido.
Hoje, temos em curso outro plano que leva à implantação da famosa Nova Ordem que não hesitará em recorrer à guerra atômica para alcançar seus objetivos. Estamos em vias de atingir o último patamar nessa escalada da violência que justificam como necessária para colocar a humanidade em ordem. A OTAN, também conhecida como NATO, está cumprindo seu papel do mesmo jeito que o cumpriram os aviões em 2001. Os Senhores do Dinheiro precisam assumir para eles sós o comando da humanidade e para isso já conhecemos parte significativa dos meios utilizados para atingirem os fins desejados.
Fico feliz por me saber em fim de caminhada e que as novas leis e mandamentos já não terão sobre mim os efeitos que sentirão as mais novas gerações e as que se seguirem. A essas só posso pedir que não se deixem robotizar, que aprendam a usar a própria cabeça para tomarem decisões que, certamente, lhes vão apresentar de forma a que sempre sejam os mesmos a serem beneficiados contando com a vossa incapacidade de dizerem NÃO.
28 AGOSTO 2022
Por que eu não me admiro mais?
É verdade sim e não há necessidade de fazer grandes esforços. Na minha longa estrada da vida, seria agora que iria estranhar que um dos maiores cavalos de batalha não continuasse a estar presente no topo do discurso de todos os políticos, todos, com algumas variações na posição: A Educação nossa de cada dia. Pessoalmente, só muito raro abordo a temática que já foi “a menina dos meus olhos”, mas que, ao perceber o modo ignóbil como ela tem sido tratada por todos aqueles responsáveis por lhe oferecer a instrumentalização que a levaria ao sucesso, abandonei, aparentemente a peleja.
O que foi praticado contra ela ao longo dos últimos anos fortaleceu-me para que caminhe individualmente, logo longe de qualquer possibilidade de obter o menor ganho na área, e aprecie com ares de malvadeza as ações que alguns ainda ousam sugerir, mesmo sabendo que não há a menor chance de obter um resquício de sucesso. Mas o discurso é elemento obrigatório para todo político “que se preza” em querer ocupar um cargo na organização do partido em que se instalou para lograr vencer e credulidade de uma maior parte dos cidadãos do país que, apenas exerce o seu dever se motivado por algumas cédulas de um fraco Real.
Corruptos de um lado e super corruptores do outro são os elementos básicos que precisamos que estarmos sempre balançando na corda bamba da ditadura, tão do agrado maioria dos políticos que negam o fato, de pés juntos, numa falsa jura em que evocam o nome do deus que dizem seguir, como garante de suas ações. Sinceramente, quem é esse capitalista que deseja ver seu explorado de estimação tomar parte em qualquer ação que lhe possa permitir desgarrar-se do patrão e levar uma vida autônoma? Só os tolos acreditam nessa possibilidade.
Ontem tivemos o nosso primeiro debate coletivo, entre os melhores classificado nessa corrida doida e lá a pudemos ver em seu ponto de destaque na oratória daqueles fracos ilusionistas, sim fracos, pois não acredito que tenham conseguido iludir um só de seus atentos ouvintes. Desta vez ela veio acompanhada num mesmo bloco do trabalho, da vida feliz e de tudo que possa melhorar a existência humana. Esqueceram, entretanto, “que de tanto levar flechadas...” o peito do trabalhador já está bem parecido “com ‘talba’ de tiro ao Álvaro...” e já não se deixam iludir com tanta facilidade. Embora não aposte todas as minhas fichas, sou capaz que colocar uma boa quantia em jogo apostando no esclarecimento que a população vem criando quando o assunto é colocar algum vagabundo para comandar nossos destinos.
Faltam 35 dias e saberemos como as coisas correram. Só espero que tenham corrido a favor do pelo.
Há! E de política falaremos em outubro!
24 AGOSTO 2021
O texto não é de minha lavra, embora como eu, o seu autor seja português. Um detalhe: quem assim escreve não deve conhecer a nossa realidade (brasileira) produto do descontrole e incapacidades do mandatário, ou seria bem mais severo.
21 DE JUNHO DE 2021
PENSAR É PRECISO OU VIRAS MARIONETE
Passei uns dias de pura reflexão. Dizem que é sábio, que é tarefa de gente inteligente. Serei isso tudo? Bem resultados têm que aparecer, por mais que você não faça nada. Concordo plenamente. Respeitando a logicidade da própria existência os resultados de nossas ações aparecem num mais ou menos longo prazo. A minha preocupação, na atualidade, centra-se na evolução mais ou menos acertada e outro tanto mais ou menos falha. Prognóstico futurista? NÃO! Nada de artes ou saberes sobredotados, apenas análise com 90% de possibilidade de dar errada.
Diz um ditado antigo que “se todos tivessem certeza, ninguém erraria jamais”, mas a vida, certamente seria monótona. Há, entretanto, que perceber que uma coisa é saber com certeza e outra é com certeza dever ser assim. Num linguajar mais propício ao entendimento de todos, diria que não adianta cuspir para o alto. Mas o homem, dito animal racional, está longe de utilizar 10% da sua capacidade racional, a tal ponto que quem consegue atingir 10,5% já é tido como superdotado, isto quando falamos de capacidade intelectual, pois quando a capacidade vai para outro$ patamare$, o comum é falar-$e de e$perteza.
Não é muito fácil, a olho nu, se distinguir quem é Zé e quem é José. Ou a pessoa é muito observadora e reflexiva ou o risco de errar chega a cifras elevadas como algo em torno dos 80%. Dependendo do momento, no entanto, esse percentual cai para perto dos 50% considerando apenas a capacidade de cada um fazer uma análise simples do que tem pela frente. Se ficássemos por aí, digamos que o jogo estaria empatado e a população teria muitas possibilidades de ver seu sonho realizar-se, porém, quando esse número tende a aproximar-se do equilíbrio entra em cena um outro fator muito importante na vida dos ser humano: a falsidade, que traz consigo a hipocrisia, a dubiedade, o blefe, a mentira e, por fim, a ganância. Temos aí a foto colorida da maioria dos nossos candidatos a políticos. No Brasil? Não... no mundo de um modo mais geral, sem, contudo, generalizar. Ainda temos bons políticos e são eles que fazem a balança não tombar de vez para um só lado, felizmente.
Não peço votos para ninguém embora apoie um candidato. Peço Atenção e discernimento para que cada eleitor perceba a que quem vai entregar o seu voto, pois, como já dizia o velho Bertold Brecht, dele depende o preço do pão e uma melhor sobrevida do pobre. Então meu irmão/a, ante de votar olha bem para o teu candidato e perscruta o horizonte para veres se descobres as suas intenções: enricar ou desenvolver a nação. Depois disso vai na fé, certamente votarás no melhor candidato para ti, para mim, para os outros e até para ele.
Uma última verdade (para mim): “votar, não custa, o que é custoso é saber votar”. As eleições estão para chegar aqui, ali num cantinho da Europa onde a desgraça que se abateu sobre o Brasil ameaça fazer furor. Aqui já sei o que passo, eles lá ainda estão se deixando iludir pelas palavras dos “santos salvadores das falsas igrejas, de idiotas pastores que conseguem mentir tão bem que engabelam o zé povinho. Nós por aqui já conhecemos os pastores curadores que por qualquer gripezinha vão bater no Hospital Albert Einstein. Curandeiros de meia tigela quebrada. Enquanto isso, 540.000 brasileiros não resistiram ao negacionismo/NOGOCIONISMO e à ganância evangélica.
Fiquem espertos, irmãos (mas não são os irmãos de igreja... não, são os irmãos de guerra, aqueles que se ofereceram para ir enfrentar a morte em nome de um país que hoje nos desconhece. Mas sejamos vingativos... Devemos dar nosso voto de confiança àquele que melhor mostrar querer elevar o poder do país e o conceito populacional dentro de uma Europa onde vimos quase desaparecendo.
Para, Pensa, Vota, pensando em não teres que te arrepender amanhã. Lembra que alguns políticos são que nem carraças: Além de parasitas (sugar o sangue do hospedeiro ainda lhe transmite doenças que o obrigam a precisar dele e isso lhe permite exigir mais um voto nas próximas eleições. Párias, parasitas, sanguessugas agarradas ao umbigo de qualquer um que não seja da sua laia e não esqueçamos os anos terríveis da segunda grande guerra o mais terrível exemplo do comportamento humano.
Sorte, muita calma, uma boa escolha e um futuro menos ruim que esse que se está desenhando no mosaico da praia da Nazaré
Força irmãos #HOLOCAUSTOJAMAIS!
- X - X - X
O BRILHO DO OLHAR PURO DE UMA CRIANÇA TEM MUITO MAIS VALOR QUE AQUELE OUTRO DE ALGUÉM QUE RI DE UM ELEMENTO CHAMADO DE "OURO DE TOLO".
UM CANTO À APRENDIZAGEM
Não encontrei outro local neste meu modesto site que melhor pudesse acolher este meu reviver dos tempos de criança. É sim uma releitura do passado (que já começa a ficar distante) que me remete ao aprofundamento da necessidade de se reconstruir a sociedade que hoje vivenciamos. Não se trata de saudosismo, mas fica em mim uma vontade de voltar a esse tempo e levar comigo um monte de gente jovem que mais tarde poderia até ser professor/a.
Vamos ao texto:
corriam os anos cinquenta e bem pouquinho, eu era ainda garotinho quando aprendi o que era viver e aprendi, justamente, a viver com quem mais viveu que eu: meus avós maternos, pois dos paternos, mal conheci minha avó, faleceram cedo.
Nascidos no XIX eles foram para mim poetas e doutores me ensinando o jeito do bem viver com o que se tem e como buscar melhoras. Escutei atentamente, estórias e canções enquanto debulhava o milho e meu avô malhava o centeio.
Na hora da refeição ninguém sentava à mesa sem primeiro lavar as mãos, mesmo que fosse preciso ir ao rio Zêzere pegar água para a higiene corporal. No verão, aproveitava e tomava um bom banho chegando a casa todo molhado, era pertinho, pouco mais de trezentos metros cada viagem de ida e volta.
A casa era humilde, de pedras sobrepostas, erguidas e amarradas com barro, pois naquele tempo não havia pelas redondezas um só grão de pó de cimento. Não me lembro de passar fome, mas tenho hoje consciência que os portugueses são de estatura mediana por falta de uma alimentação mais equilibrada e propícia ao bom desenvolvimento do ser humano. Trabalho remunerado, naquele tempo, só nas grandes cidades ou quando alguma mineradora vinha para a região explorar os minérios por ali existentes. Raro, portanto.
Com cinco anos aprendi a levar água à plantação, água extraída do rio já citado através de um engenho artesanal a que chamávamos “picanço”. Quantas vezes, entre a mudança de direção da água de uma leira a outra aproveitava para comer um melão, outras vezes escolhia comer um pêssego de aparte, ou uma pera, ou uma maçã, ou alguns figos, mas além disso havia naquele espaço agricultado algo que me fascinava: adorava sentar em baixo de um pé de tomate (tomateiro) e ficava me lambuzando com tomates “de vez”, não gostava muito dos mais maduros. Uma das espécies de tomateiro que meu avô cultivava chamávamos-lhe nós “coração de boi” por conta de algumas características: além do formato de um coração (assim como nós o desenhamos!) o tomate era grande de tal modo que as minhas duas mãos pequenitas precisavam me ajudar na tarefa deliciosa de saborear uma delícia daquelas. Eis a explicação para o nome da espécie de tomate - grande como o coração de um boi!
Certa vez, estando meu avô e eu na beira do rio que por aquela altura levava bastante água ao mar, o inverno terminara fazia poucos dias, meu avô me ensinou a pescar sem rede, sem anzol, apena com uma pedra. Para mim era aprendizagem pura, viva e prática, pois meus avós eram completamente analfabetos.
Disse-me meu avô: “fica esperto com essa pedra na mão e levanta-a acima da cabeça” assim fiz enquanto perguntava, por debaixo da pedra bastante grande que ele me entregara: “vovô, vamos pescar à pedrada”? Foi aí que veio o ensinamento: “presta atenção naquele peixe bem ali – tratava-se de uma truta – repara que a qualquer momento ele vai ficar por debaixo daquela pedra ali, estás a ver”? E me apontava para uma pedra suficientemente grande para esconder a truta e outros pequenos peixes que se abrigavam do sol. Meu avô continuou a sua lição de pesca: “quando a truta ficar debaixo da pedra tens que jogar com toda a força a tua pedra contra aquela que abriga a truta... e te prepara para correr”!
Fiquei meio perdido e descrente, mas o fato aconteceu – a truta foi se abrigar de predadores e do sol, sob a grande pedra. Não hesitei e ao mesmo tempo que meu avô me acenava para atirar a pedra joguei a minha pedra sobre a outra e qual não é a minha surpresa quando vi a truta tentando “encontrar a saída”, dando voltas sobre ela mesma. Meu avô não esperou que eu pulasse na água para pegar a truta, pulou de imediato e logo gritou de contente: “hoje temos peixe fresco para o almoço”!
Era uma novidade, naquele momento, pois a população daquela época se alimentava mais com base na carne do porco que matavam lá pelo mês de novembro e era conservado na salgadeira, durando para o ano inteiro, considerando que a família era composta de meus avós e eu que passava meus primeiros anos de vida com eles enquanto não me matricularam numa tal de escola e os meus pais iam trabalhar na indústria de tecidos.
Explicando o "sistema" da pesca à pedrada: o peixe vítima e o alvo da nossa pesca predatória tende a esconder-se sob a uma ou outra pedra. Quando jogamos a nossa pedra sobre aquela em que se esconde o peixe, produz-se uma onda sonora dentro da água que faz o peixe ficar desorientado e por vezes, dependendo de algumas circunstâncias, chega boiar de bariga para o ar. é o momento de cair na água e apanhar a vítima indefesa.
E assim foi. À minha truta juntaram-se mais dois peixes que ficaram na rede que meu avô esticara alguns metros mais acima. Hoje, recordando esses tempos de liberdade para ser criança e aprendendo com quem conhecia apenas a prática diária de existir, lamento a nossa atual juventude que não desprega os olhos da tela de um computador ou de um celular, mas é incapaz de pegar um martelo e um prego para pregá-lo na parede e dependurar as roupas que utilizou e que joga no chão, pois tem alguém que as apanhe para ela. Não estranhem o exemplo, por conta do sexo feminino, pois naqueles dias era muito comum você ver uma mulher empunhar um machado e ir à floresta procurar lenha para fazer a fogueira que aqueceria a casa no inverno e servia, também, para cozinhar. Hoje, com esse tal do ECA, não faltam por aí filhos batendo nos país porque sabem que não se pode triscar neles ou pode ser enquadrado no Código Penal. Também não estranharei se for chamado de machista por conta da afirmação que faço sobre as mulheres daquele tempo histórico.
Aprendi “a fazer poesia” com o rabo da enxada, enquanto "ajudava" meu avô, que com a sua enxada ia dando a volta à terra, preparando-a para a sementeira:
"Ó lua que vais tão alta,
redonda como um tamanco,
Ó Maria traz a escada,
Que não chego lá com o banco".
A letra cursiva aprendi-a com a foice, as letras garrafais eu as aprendi pisando uvas para fazer o vinho que tomaríamos durante o ano inteiro, até à próxima vindima. Colher e apanhar as azeitonas me ensinou a perceber que sobre as nossas cabeças passavam grandes chumaços de algodão a quem chamavam de nuvens e que eram elas as responsáveis pela chuva e neve que caiam, geralmente, no inverno. Os números aprendi-os contando os ovos que minha avó vendia para juntar algum dinheiro para comprar tecido, na mercearia da aldeia, com que faria as roupas que iriamos vestir no domingo seguinte, ou outro qualquer domingo.
Aprendi com meu avô que todos nós temos uma obrigação a cumprir para nos tornarmos homens: plantar pelo menos uma árvore. Quantas plantei? Não sei dizer, mas tenho a certeza que cumpri o meu dever e o de mais algumas dezenas de pessoas desrespeitosas para com a natureza.
A última vez que estive nesse cantinho para mim sagrado, o local onde nasci nos idos de 49 do séc XX, foi no ano de 2008. Outras vezes por lá andei perto, mas não visitei aquele lugar que será, até à minha morte, o meu “canto de louvor à natureza”, por mais mal tratado que seja ou esteja. Foi ali que dei meu primeiro passo, falei minha primeira palavra, aprendi as primeiras lições que jamais esquecerei. Se hoje cheguei a este local de fala, devo-o àquele pedacinho de terra que, com seu ritmo natural, me ensinou tantas coisas.
PRIMEIRAS IMPRESSÕES SOBRE AS RELEITURAS.
Acredito que continuo sem saber de muita coisa que talvez devesse saber. Pelo menos é que me está orientando nestas duas releituras que faço (Sartre e Dostoiévski). Do primeiro releio “As Palavras”, do segundo trago uma obra bastante complexa que recebeu muitos aplausos e quase outras tantas críticas, mas foi considerada a grande obra do autor “O Idiota”.
Pegando um pouco o gancho do segundo, sinto necessidade de cimentar um conceito que eu já acreditava, o idiota, que não é aquele que muitas pessoas chamam com ar menosprezo de “sem noção” e sim aquele que tem ideias. O idiota é muitas vezes um sábio que se deixa enganar (tendo consciência disso) apenas para ver o comportamento daquele que o engana, ou tenta enganar. Ele é, pois um esperto que finge ser menos inteligente.
Do segundo, esse bem mais perto de mim, pois fomos vizinhos em determinado momento da minha vida de andanças por esse mundo, me permito dizer que aprendi muito, mas muito mesmo, daquele pouquinho que sei. Li a obra escrita no francês e dela guardei, para meu uso, ideias e conceitos que ainda hoje trago comigo e pratico diariamente. Costumo dizer, quem estudou comigo deve recordar que eu dizia amiudadas vezes que me atinha muito às palavras, isto é, na minha análise, muitas vezes uma ou duas palavras mal colocadas num texto ou discurso botam a “boiada para o brejo”, para usar uma expressão bem nordestina de falar.
Como São apenas as primeiras impressões não vou aprofundar muito a análise das obras e ficar, portanto, mais na superficialidade de ambas. Faço desde logo uma comparação entre o enredo das obras e o desenrolar da minha vida. Não que eu queira me comparar com os autores, mas perceber como a leitura é capaz de alterar um pensamento, um ser humano, a humanidade.
A primeira leitura de Dostoiévsky, na minha juventude primeira, me alertou para alguns comportamentos de um ou outro personagem, mas não consegui extrair dela pouco mais que o idiota era um príncipe que era tratado como um maltrapilho até que se apoderou do que era seu por direito em meio a muito sofrimento. Percebi o idiota como um camarada que não consegui ter sorte no amor, motivo pelo qual ele sofria demais. Sempre se apaixonava pela mulher errada. Fiquei alerta com as falsas amizades não só do ponto de vista social, mas também do ponto de vista económico: o ser humano, em sua maioria, sem generalizações, é ruim por natureza. E isso não é algo provocado aleatoriamente. Se imaginarmos uma peça de teatro em que se desenrole uma cena de execução de pena de morte, podem perceber que a arte imita a vida que, por sua vez a repete. Ali existe o carrasco que tem uma aparência de um gigante, forte, capaz de lhe estraçalhar só de mãos nuas, mas ele vai ou baixar a guilhotina, ou acionar o cadafalso, poucas vezes se vê um paredão e pelotão de fuzilamento, ou a cadeira eletrificada que até uma criança é capaz de apertar o botão que induz a descarga elétrica mortal, ou baixar aquilo que eu chamo de chave elétrica de formato canivete.
No papel de Príncipe Michkin, o autor que é epilético, acabava de deixar a Suíça de retorno à Rússia, onde tinha para receber, segundo informações que chegaram até ele, uma fortuna de muitos milhões de rublos. Durante o tratamento ele teve tempo para refletir sobre a importância da individualidade e do coletivo socialista. Passou a dar menos valor ao individualismo e sua preocupação era o próximo, fato que causou a aproximação de muitos oportunistas de olho no seu capital. Entre essas pessoas oportunistas, não faltaram as mulheres que representaram um papel preponderante na história que Dostoiévsky nos narra. Vale lembrar neste princípio de releitura que Michkin não era nenhum santo, pois havia cometido um crime e fora condenado à morte, no entanto, não fica claro, para mim, por qual motivo ele foi liberado da condenação à morte quando já estava para ser executado e teve a pena convertida em trabalhos forçados. Posso afirmar que momentos para refletir a importância da vida e da religiosidade não lhe faltaram. Defensor da ortodoxia católica ele não se sente muito bem entre os defensores dos católicos mais racionalizados e dogmáticos. Ele pretende, com sua ação transformar a Rússia que, no céu ponto de vista estava muito europeizada. Bem, por hoje fico por aqui. O livro tem algo entre as 700/800 páginas (dependendo da editora) e não pode ser apresentada assim em poucas palavras. No próximo texto trarei um pouco mais dessa trama.
“As palavras” surge em 1964 e vão revolucionar o sistema memorialista e aquilo a que chamamos de autobiografia. Este é o único registro autobiográfico que o autor vai fazer ao longo de sua vida e carreira de escritor. A obra “As palavras” pode ser dividida em duas partes - Ler e Escrever. Na primeira parte, o autor destaca o relacionamento com sua jovem mãe, com a qual acabou estabelecendo uma afetividade muito mais fraternal do que filial, pois chegou a pensar em casar com ela, como ele já lera que Édipo teria feito noutros tempos. Na segunda parte, ele nos apresenta ao jovem Sartre, que cedo, assim que começou a decifrar os códigos escritos - as palavras - pôs-se a escrever longas e inventadas histórias de aventuras. Durante essa fase ele passa em revista, com lucidez e rigor, a história de sua infância, pois o que lhe interessava era desvendar as raízes de sua vocação de escritor e descobrir o sentido moral e social desse seu ofício. As palavras transformam-se num grande marco literário de sua carreira. Como já disse, este é um livro de memórias, o único único, escrito pelo homem que conseguiu pensar sistematicamente contra si mesmo.
Sartre, nascido no interior da França, de pai morto, como ele mesmo afirma considerando que o pai dele, um pequeno oficial da marinha francesa, morre poucos dias depois de sua mãe ter-lhe dado à luz. A mãe se vê obrigada a retornar ao lar paterno de onde saiu para casar com aquele velho oficial da marinha, a contragosto dos pais, mesmo e talvez principalmente que ela era entre os irmãos aquela que não tinha estudos e que servia quase de faxineira da casa. Quando retorna com um filho nos braços, narra Sartre, houve certa rejeição, principalmente ao garoto que além de representar um peso a mais para a economia familiar, era praticamente um filho de uma mãe praticamente solteira.
Vivendo pelos cantos, em silêncio, julgando-se um aborto, feio, doente e sofrendo aquele isolamento familiar, ele foi pegando intimidade com os livros que continham as palavras que ele conhecia ou dominava, digamos assim. Tal como aconteceu acima com Dostoiévsky, também não vou relatar a obra neste momento. O que vou trazer para vocês são impressões que hoje me ficaram gravadas na memória e que depois debati na universidade e hoje, com esta releitura se consolidam. A primeira coisa que aprendi com ele foi não temer a morte. Segundo ele (1978, p.59) quanto mais absurda a vida, menos suportável é a morte”, por isso ele não se apegar tanto à vida a ponte de pensar várias vezes em morrer. Sartre tinha sonhos e “visões” a qualquer instante da morte, fosse dia, fosse noite, acordado ou dormindo. O rapazinho que ia crescendo era educado na religião católica, mas o deus que lhe queriam entregar não era que que ele esperava. Sartre esperava um deus Criador e o que lhe mostravam e entregavam era um grande patrão com quem não conseguia um bom relacionamento. Na sua família todos eram crentes e ele fora batizado “para manter a independência dele”. No seu livro “As Palavras” Sartre satiriza (entendam esse jogo de palavras, pois ele foi tomado como um gozador de muitas coisas desta vida, a religião inclusa) e afirma com toda a propriedade que seu tio Charles Schweitzer era comediante e queria sempre a presença do Grande Espectador, mas dificilmente pensa no seu Deus, a não ser nas horas de aflição e não perdia uma oportunidade de colocar o catolicismo no ridículo. Não era um senhor de convicções religiosas. Sartre acrescenta que (1978, p 60) que: “O crente não as tinha absolutamente: após dois mil anos, as certezas cristãs haviam tido tempo de serem comprovadas, pertenciam a todos, delas exigia-se que brilhassem no olhar de um padre, na meia luz de uma igreja e que iluminassem as almas, mas ninguém precisava retomá-las por sua conta; era patrimônio comum”. Sua avó dizia não acreditar em nada e apenas o seu ceticismo lhe impedia de ser ateia.
Essa discussão da religião que Sartre faz nesta obra, do seu ponto de vista, foi forte influenciadora na minha tomada de consciência sobre o assunto e embora novo quando li “as palavras”, adotei para minha conduta o agnosticismo como uma não-religião e sim como um modo de ver a o mundo e os seres que nele habitam. Quem me conhece sabe muito bem que adoro os questionamentos, sabe também que nem todos eles têm respostas plausíveis e/ou passíveis de aceitação, restando-me a dúvida e a incerteza. Prefiro, desde esse tempo, não aceitar nenhuma como mais válida que qualquer outra e assim sendo, costumo dizer respeitosamente, que não adoto nenhuma, mas respeito todas elas.
Por hoje, vou ficando por aqui. Na próxima intervenção sobre as releituras trarei um pouco mais das obras que estou relendo. Deixo a minha convicção que jamais devemos ler apenas uma vez cada obra, pois as entrelinhas não se mostram de imediato ao leitor voraz, devorador de páginas, é preciso macerá-las, absorver bem cada palavra, cada sentido (quantas vezes escondido numa outra, ou apenas intuído) e sentir na nossa pele o que o autor deve ter sentido ao escrever e muito mais ao vivenciar experiências próximas das que narra.
Até breve! “As palavras” surge em 1964 e vão revolucionar o sistema memorialista e aquilo a que chamamos de autobiografia. Este é o único registro autobiográfico que o autor vai fazer ao longo de sua vida e carreira de escritor. A obra “As palavras” pode ser dividida em duas partes - Ler e Escrever. Na primeira parte, o autor destaca o relacionamento com sua jovem mãe, com a qual acabou estabelecendo uma afetividade muito mais fraternal do que filial, pois chegou a pensar em casar com ela, como ele já lera que èdipo teria feito noutros tempos. Na segunda parte, ele nos apresenta ao jovem Sartre, que cedo, assim que começou a decifrar os códigos escritos - as palavras - pôs-se a escrever longas e inventadas histórias de aventuras. Durante essa fase ele passa em revista, com lucidez e rigor, a história de sua infância, pois o que lhe interessava era desvendar as raízes de sua vocação de escritor e descobrir o sentido moral e social desse seu ofício. As palavras transformam-se num grande marco literário de sua carreira. Como já disse, este é um livro de memórias, o único único, escrito pelo homem que conseguiu pensar sistematicamente contra si mesmo.
A LÓGICA DO SER HUMANO
Reza o velho adágio que “de velho se torna a menino”. Começo a entender o verdadeiro sentido da frase que muitos tomam como depreciativa, outros como brincadeira, outros mais como chacota por ainda não terem começado a perceber os sinais. Há algum tempo venho percebendo que já em criança, ou meninote, como queiram entender, eu tive os sinais marcante do meu futuro e não soube entendê-los, interpretá-los e por fim colocá-los em prática. Hoje, muito ano passado, já na aposentadoria, percebe claramente a relação entre o começo de uma vida e o começo do fim dela mesma.
Não posso afirmar qual foi (ou está sendo) a influência da desditosa endemia de corona vírus para a evolução dos fatos que vou narrar publicamente, mas que eu já narrei muitas vezes para os meu ex alunos – até como forma de incentivá-los à leitura, ao mesmo tempo que relembro tempos de felicidade da existência, como são todos os outros, malgrado nosso descontentamento com esta ou aquela outra situação que desejaríamos tivesse acontecido de forma diferente. O homem é um ser de aprendizagem por exigência da própria existência, caso o não seja pode chegar aos casos mais graves do chamado embrutecimento e à marginalização social.
Chega de papo e vamos aos fatos. Recordo claramente que nos meus tempos de “aborrecente”, aquele em que nos intrigamos com a demora do tempo a passar, eu já dava sinais do que me tornei em adulto e que hoje, quando vos revelar a verdade, a minha verdade, talvez muita gente se surpreenda e outros nem tanto assim: sempre fui um tanto, bastante, antissocial. Sempre prezei pelo meu isolamento e zelei pelo meu casal de maior convivência e confidência: o papel e a caneta. Era com eles, isolados ou em conjunto, que eu desabafava, com quem eu trocava minhas ideias (até as mais loucas!), pois sabia que no mínimo e ter um silencia como resposta ou, então, sugestões que não me eram impostas como verdadeiras e universais, deixando-me o livre arbítrio da escolha. Aprendi a conviver com eles de muito novo, apenas para tentar localizar os fatos no tempo histórico avanço-lhes que ainda não tinha começado a frequentar a escola, mas já sabia ler (naquela acepção que a maioria do povo faz como conceito de leitura: juntar as letrinhas e formar palavras que na maioria das vezes não atinge o significado). Foi por esse tempo, então, que entre a “leitura” da coleção “Os cinco” me cai entre as mãos o meu primeiro livro proibido em Portugal: “O velho e o preto”. Quero aqui abrir um parêntesis para informar que naqueles anos 50 que corriam ainda não era considerado racismo chamar algo ou alguém de preto, além de que, na obra de Stendal o que hoje é chamado de negro deveria continuar a ser chamado de preto, pois se trata de uma cor e não de um tom de pele (bem, no meu entendimento), preta é a cor (substantivo) e não a tonalidade de uma pele (adjetivo). Mas eu não vim aqui para discutir isso, portanto deixemos para lá.
Mais tarde, na sequência de proibidos apareceu Dostoievsky, a várias reprises (O idiota; o jogador; os irmãos Karamazov; crime e castigo), dos quais, de todos eles, pouco sobrava da “leitura” feita, pois e principalmente por se tratar de um escritor a quem podemos chamar difícil de interpretar quando não se tem conhecimento e desenvolvimento intelectual para realizar a interpretação de seus textos. Mas creio que era essa dificuldade, ou a vontade de entender seus escritos que me levaram a procurar a leitura de quase toda sua obra. Depois seguiram-se, entre outros, Jean Paul Sartre, Jean Marrais, Jean Cocteau, Simone Beauvoir etc., etc..
Vamos dar um pulo na vida Sob o arco descrito entre os anos 50/60 do século XX até ao presente (2021) devem imaginar que muita água tenha passado sob alguma das pontes que atravessam o Rio Sena, e milhões de navios cruzaram o oceano que hoje me separa da Europa. Estou com quase 72 anos (completo em Março, mas já aceito presentes) e qual não é a minha surpresa ao sentir um desejo muito forte de voltar a fazer as leituras do meu tempo de criança. Tudo começou quando em conversa doméstica afirmei que prezava muito as minhas palavras. Conversávamos sobre o politicamente incorreto, mas verdadeiro e o politicamente correto, mas mentiroso. Coisas que com frequência esta endemia proporciona. Esta conversa me atiçou o desejo de reler aquelas obras e eis-me às voltas com os velhos clássicos que andavam levemente abandonados na quarta prateleira de minha estante que me serve de biblioteca.
A lógica do meu atual pensar induziu-me a (re)ler, primeiro que qualquer outra, a obra de Sartre intitulada “As Palavras”. A primeira conclusão a que chego: você deve ler mais de uma vez a mesma obra, em momentos distintos e distantes, de forma a que você possa comparar a sua compreensão nesses dois momentos. Você, como eu, certamente se surpreenderá! Eu fiquei simplesmente estarrecido. Estou elaborando um “relatório de leitura” que em breve estarei depositando aqui mesmo. Neste momento estou apenas prestando contas da utilização deste meu tempo misto de endemia e aposentadoria. Gostaria que esta minha ideia pudesse fazer seguidores. Certamente não se arrependerão do ato.
Com um até breve vou continuar minhas releituras!
Bom resto de semana!
ALGO DE NOVO NO HORIZONTE DAS RELEITURAS
Na rubrica anunciada: “RELEITURAS”, eu tenho aproveitado para apresentar as minhas releituras que não são obrigatoriamente atos de “ler novamente” alguma obra escrita, podendo ser a “releitura de uma opinião, de um fato, de um acontecimento, de mim mesmo ou de outra pessoa”.
Nestes dias pandêmicos enlouquecedores tenho tentado, além das escritas de opiniões diversas que vocês têm acompanhado (grato pela deferência) tenho realizado e participado de diversas “lives” onde se tem discutido de tudo um pouco, uma oportunidade de manifestar meu ponto de vista e acatado bastantes recomendações de muitos parceiro/as que tenho encontrado. Uma das opiniões que aceitei de imediato e estou praticando fielmente é o ABANDONO DEFINITIVO do tal do facebook que pouco ou nada tem acrescentado na minha vida, além de muitas vezes a discórdia a inimizade e coisas desse gênero. Bateu no fundo. Não me procurem ou mandem mensagens, pois eu não abro mais qualquer noticia, pedido ou mensagem enviada por essa via.
Infelizmente para nós, cidadãos, não nos restam muitas alternativas (não que eu conheça) de redes sociais que não estejam ligadas a esse imundice do face, obrigando-nos a permanecer com a conta ativa para ter acesso às demais redes (Inst. Messenger. Whatsapp. Etc. Etc.). Mas ninguém é obrigado a frequentar essas trampas, ainda nos deixaram, pelo menos o livre arbítrio da escolha por onde queremos navegar, por mais que estejamos sendo vigiados e condicionados da mesma forma, pelo menos aqueles menos intelectualmente atentos para as manipulações a que nos submetem diuturnamente. Estou fora!
Continuo lidando com as TIC’s, mas apenas onde me sinto “livre” para expressar meu sentir sem ter que receber uma carga de publicidade enganosa (o Sr. ZUCK quer é dinheiro e não se importa se o camarada que usa a sua rede para propagandear bosta enlatada está cometendo crime, como por exemplo, os últimos acontecimentos entre ele e o pica-pau louro da América). Então que desejar falar comigo que me procure no Messenger, no Twitter, aqui no meu site (que o ZUCK quis boicotar por não sobrar nem um centavo para ele e eu poder baixar o cacete nele, desde que não diga mentiras e tenha as provas) e finalmente o e-mail através do qual também podemos conversar em live ou Hangouts.
Mas voltando ao meu tema, as releituras, tenho aproveitado bem este tem de loucura pandêmica. Tenho tentado manter minha sanidade mental. Assim. Recorri aos meus escritores preferidos: Já terminei a visualização de 10 capítulos em que está dividida a obra de Fiódor Dostoiévski intitulada “O Idiota”, uma obra magistral da qual já tinha lido o livro, lá pelos anos 60/70 tornando assim a sentir prazer no contato com o Príncipe Idiota. Para não me alongar muito em considerações a respeito deixo a minha principal lição reaprendida (pois tenho tentado segui-la há muitos anos) que é o valor da honestidade e sinceridade da pessoa, por mais que isso possa magoar alguém, considerando que quem se sentir magoado com a verdade e a sinceridade alheia não comunga da mesma prática. Podem tirar-se muitas outras lições, é lógico, mas seria necessário quase escrever outro livro para dar conta da quantidade de aprendizado social e até filosófico que dessa obra se depreende.
Neste momento estou a meio da releitura de outra obra que foi basilar na minha formação, tanto mais que conheci e convivi pessoalmente com o autor. Esta obra, encontrei-a quase por acaso, ao arrumar meus livros. Sabia que guardava em algum lugar, mas jamais a encontrava quando precisava, desta feita, sem querer deparei-me com “As Palavras” de Jean Paul Sartre e não pensei em fazer outra coisa, iniciei de imediato a sua releitura.
Tenho-o escrito por aqui e quem foi meu aluno deve recordar que eu vivia dizendo que dou muito valor às palavras (faladas e muito mais escritas), essa postura deriva em 99% da leitura da obra e da troca de ideias com o autor aquando da minha residência em França. Posso dizer que aproveitei muito essa minha proximidade com Sartre e o seu grupo: da filosofia, da literatura, do cinema, do teatro e muito principalmente da política. Foi com esse grupo de “resistentes”, dos quais alguns chegaram a estar presos pelos nazistas durante a segunda grande guerra, que aprendi o valor do socialismo que defendiam. Pessoalmente, ainda hoje me considero um socialista.
Reler “as palavras” vai me trazer à mente muito do passado, não tão distante, mas também não tão perto, que logo mais (ao terminar a leitura) terei prazer de vos trazer até aqui. Mas não vão pensar que pretendo terminar por aqui, a lista das futuras leituras é grande. Não queria ter esse tempo pandêmico para ler tudo, queria um tempo sadio e tranquilo para o deleite ser maior, mas endemia está crescendo, a minha vida encurtando e a doença que adquiri corrobora para o encurtamento desse tempo. Vejam só:
1 – Saramago – Claraboia
2 – Mia Couto – Jesusalem
3 – Sartre – O muro
4 – Albert Camus – A Peste (tudo a ver com a nossa atual realidade)
5 – Nietzsche – para além do bem e do mal.
6 – Albert Camus – A queda
7 – Dostoiévski – O jogador
8 – Albert Camus – O Estrangeiro
9 – Albert Camus – Diário de viagem.
Como podem perceber não é pouco, mas significativo, Alguém me perguntará, mas e a Educação? Responderei que essa tem, também a sua secção específica, muito embora possa aparecer em todos os lugares, visto que é o carro chefe deste site.
E assim vou passando o tempo tentando resguardar a minha integridade intelectual na medida em que a idade me permite.
Capítulo 12
Pensamento pedagógico antiautoritário.
A Escola Nova não estava mais resolvendo tantas questões como as que eram levantadas pelo sistema educacional, por isso, nossos pensadores arregaçaram as mangas e botaram as mãos na massa. O pensamento pedagógico antiautoritário, para mim, nada mais é que a "psicologisação" da educação. A psicologia pensava resolver todos os problemas do mundo via educação.
Uma curiosidade que é apenas abordada "en passant" é o fato de liberais e marxistas estarem mais ou menos unidos nesse princípio educacional que pressupunha a liberdade do ser humano como principal objetivo a ser alcançado pela educação. Freud, só ele pode explicar, pois é considerado o pai, o inspirador de tal pensamento. Para ele, Freud, "a educação representa um processo, cuja intenção coletiva é 'modelar' as crianças de acordo com os valores dos que vão morrer; é o agente transmissor do princípio da realidade frente ao princípio do prazer" (pp.173-174).
Fora do ciclo dos psicólogos, Francisco Ferrer GUARDIA, um educador espanhol, rebelde contra as mazelas da monarquia à qual estava ligeiramente ligado apodera-se do pensamento iluminista da época e passa a acreditar "no valor da educação como remédio absoluto para os males da sociedade", isto é ele acreditava na educação como uma panaceia. Se não tinha razão na conceituação de educação, teve um valor bastante significativo na instrumentalização da educação que preconizava, pois é ele o criador da Escola Normal Racionalista que ficou encarregada de formar os novos professores, que o próprio Ferrer definia assim: "o que tenciono fazer está tão longe do que se fez até aqui que, se não existem métodos aceitáveis, vamos criá-los. Nesta escola não será preciso glorificar a Deus, nem Pátria, nem nada... O nome que darei ao estabelecimento será 'A escola emancipadora do século XX'" (p.174). Precisamos, contudo, entender como ele via a educação sendo a panaceia que ele idealizava. Ora para mudar a sociedade, segundo ele, só com a revolução, e a revolução tinha que ser comandada pela educação. A escola tem, neste ambiente, o papel de preparar os novos revolucionários através de ações pedagógicas.
Pessoalmente não desprezo tendência alguma, não condeno método algum, mas ao mesmo tempo também não aprovo nenhum, pois considero que todos eles têm algo a contribuir para a educação das novas gerações, por mais as consideremos as gerações cibernéticas. Para tudo é preciso: conhecimentos vários, domínio de técnicas, respeito a tudo e a todos, prática, um certo nível de austeridade (não confundir com autoritarismo), persistência e perspicácia. tudo isso está diluído nos diversos programas e métodos que temos visto até aqui, sem que um único consiga dar conta da totalidade.
Quem também defende abertamente o não autoritarismo é A. S. Neill que chega ao ponto de afirmar: "a religião diz: sê bom e serás feliz. Mas o inverso é mais certo: sê feliz e serás bom" p.175). Para Neill, "a missão do professor consistiria então em estimular o pensamento e não injetar doutrinas". São ainda dele as seguintes palavras, com as quais concordo plenamente: "a escola deveria desafiar o poder, o ódio e a moral".
Encontramos no período, a Carl C. Rogers que afirmava que "todo o processo educativo deveria então centrar-se na criança, não no professor, nem no conteúdo pragmático" (p. 176). Para ele, "o objetivo da educação seria ajudar os alunos a converter-se em indivíduos capazes de ter inicativa própria para a ação, responsáveis por suas ações, que trabalhassem não para obter a aprovação dos demais, mas para atingir seus próprios objetivos" (idem). Uma educação humanista.
Celestin Freinet concebe a educação através do trabalho, na expressão da liberdade e nas pesquisas. Neste caso, "o papel do novo mestre exigiria que o mesmo fosse preparado para, individual e cooperativamente, em colaboração com os alunos, aperfeiçoar a organização material e a vida comunitária de sua escola; permitir que cada um se entregue ao trabalho-jogo que responda ao máximo a suas necessidades e tendências vitais"!
Por fim, H. Wallon que preconiza uma educação para a criança vista como um ser social em desenvolvimento. Ele é muito preocupado com a formação docente e prega a aprendizagem da psicologia para que se possa educar as crianças.
Podemos perceber, neste capítulo que boa parte dos pensadores iluministas tendem a transformar o ato de aprender numa função psicológica que precisa ser direcionada por um ser mais velho que domine os princípios da psicologia. No meu entender, o que se propunha era a plena dominação da criança através de uma falsa liberdade, pois a partir do momento em que eu, professor, sou obrigado a utilizar a psicologia é para "dominar" a vontade de alguém e não somente para "entender" o posicionamento desse alguém.
O próximo capítulo já está a caminho!
Capítulo 11
Pensamento Pedagógico Fenomenológico/Existencialista
Podemos afirmar que o século XX trouxe para a educação uma verdadeira revolução dos pensamentos pedagógico, dos pensamentos, mas as práticas... Espero que sintam a intencionalidade crítica que desde já manifesto, através das minhas reticências, pois elas são propositais. É meu aviso, não precisam concordar com ele, que passamos todo o século XX tentando acertar um modelo de educação que atendesse todas as necessidades educacio9nais dos mais diversos países e o que se conseguiu foi uma pequena guerra de teorias que não levaram muito longe.
Dada esta notícia, e adentrando a releitura do texto de Gadotti, deparo-me com um início do século XX sob a égide de Suchodolsky e sua obra “A pedagogia e as grandes correntes filosóficas” que, certamente, influenciou em muito a educação a nível mundial, principalmente naqueles países de raiz mais socialista, democrática e de sociedade mais igualitária. Deveria, só por isso, ser considerada uma possibilidade para o mundo, mas não podemos esquecer que o mundo é dos capitalistas “assim como ar é do avião”, diz a música popular brasileira. Por esse motivo, infelizmente, não passou de mais uma teoria da qual se aproveitou (?) alguma coisa para, já que mais não fosse dar início a outras teorias. Teve, porém, e isso é inegável, a capacidade de dividir as correntes educacionais em dois patamares que eu, pessoalmente, considero bastante: o existencialismo e o essencialismo.
De onde me vem essa concordância com essa divisão feita por Suchodolsky? Da fé, ou da falta dela. O que a teoria do autor nos mostra é que existe uma tendência que estuda a educação voltada para uma sociedade que acredita que o ser humano é apenas uma alma, a essência, que se instala num determinado corpo através da reencarnação, e uma outra teoria que defende o oposto, que o corpo que cria uma alma que regerá sua existência até a hora da morte, sendo ela moldável, dependendo da educação que esse ser humano receba e assimile. Vejam que só esta discussão já nos poderia ocupar um semestre inteiro do curso para que não se chegasse finalmente a canto algum, pois a crença é algo pessoal e não é tão fácil provar nem uma nem outra teoria. Também por este motivo eu dizer que não passou de mais uma teoria da qual um ou outro aproveitou alguma coisa para desenvolver “seu” método educacional.
De salientar, em todo caso, a origem filosófica da teoria de Suchodolsky, como as demais, aliás, e por isso quantas vezes tão difíceis de assimilar, pois não sabemos traduzir com exatidão o pensar de cada um desses filósofos que já não estão entre nós para nos dizerem que estamos certos ou errados na nossa análise. A prova disso, talvez seja que a pedagogia da essência teve origem lá na Grécia antiga, com o nosso Platão que, logicamente influenciou o cristianismo ao falar da alma, que por si leva ao Divino, ao Deus católico. Assim, “a pedagogia da essência investiga tudo que é empírico no homem e concebe a educação como ação que desenvolve no indivíduo o que define a sua essência verdadeira” (p.158). Esta foi a posição adotada pela igreja católica por um longo período. A mim, contudo, fica-me faltando a compreensão do que a igreja compreenda por “essência verdadeira”, talvez até por ser um humano que se porta de forma agnóstica. Deixo, pois a cada aluno, ou leitor, a possibilidade de fazer consigo mesmo essa discussão do que seja a tal da “essência verdadeira”, tomando por base qualquer ser humano, ou qualquer sociedade, mais ou menos evoluída.
Talvez com a mesma dúvida que eu tenho, um monte de autores/pensadores se questionou a esse sujeito e apresentaram, em contraposição a pedagogia da existência. Assim surgem: Vives, Rousseau, Kierkgaard, Stiner e até nosso “bigodudo” NitZche. Nascia junto com a pedagogia da existência, a escola chamada de tradicionalista, aquela que “defendia o direito do homem viver de acordo com as suas crenças, (...)”, mostrando “(...) que o erro da pedagogia da essência está em impor aos indivíduos um ideal ultrapassado que lhes é estranho, uma religião a serviço da sociedade e do Estado”. Essa associação ainda hoje dá o que falar: igreja/estado, nos levando ao fascismo.
Gadotti me parece bem feliz ao escrever um parágrafo resume bem a diferença entre estas duas concepções educacionais. Diz ele, nas suas palavras: “Em resumo, a pedagogia da essência propõe um programa para levar a criança a conhecer sistematicamente as etapas do desenvolvimento da humanidade; a pedagogia da existência, a organização e a satisfação das necessidades atuais da criança através do conhecimento e da ação” (p.159).
Surge, dessa discussão, a educação nova, uma expressão de uma pedagogia moderna que trazia escondida na manga da camisa a ideia fixa de acabar com essa dúvida criada pela pelas pedagogias da essência e da existência. Atrelada a esta nova tendência, ou o seu inverso, surge uma nova teoria, a fenomenologia que, a olhar seu nome já nos indica, sobremaneira, a base de sua argumentação: o fenômeno, que no caso é o fenómeno social.
Essa contemporaneidade trás consigo “necessidades novas {que} foram incorporadas à pedagogia: desafio, decisão, compromisso, diálogo, dúvida, próprias do chamado humanismo moderno” (p.160). Gadotti traz-nos uma lista de pensadores e filósofos existencialistas dos quais, por uma opção meramente pessoal, destaco Jean Paul Sartre, com sua obra famosa “O humanismo é um existencialismo”, que recomendo a leitura. Não é uma leitura muito fácil para iniciantes no estudo da filosofia, mas assim mesmo meritório de uma leitura uma pouco mais acurada.
Mas voltemos à nossa fenomenologia para dizer que ela vai nos trazer uma preocupação um pouco mais centrada na antropologia. Assim, “a fenomenologia preocupa-se com o que aparece e o que está escondido nas aparências, uma vez que aquilo que aparece nem sempre é”(p.160). Não se trata de adivinhação, o “método fenomenológico procura descrever e interpretar os fenómenos, os processos e as coisas pelo que eles são, sem preconceitos”. Vale salientar que a fenomenologia foi uma teoria criada, principalmente, para a interpretação de textos. São seus principais ideólogos Sartre e Paul Ricoeur. Outra obra de Sartre que pode e deve ser lida, pois apesar de ter sido escrita lá pela metade do séc. XX é um primor de atualidade, é “Tempos Modernos”. Não tenha receio de solicitar de seu professor de filosofia, maiores informações sobre esses dois pensadores, tenho a certeza que não se arrependerá.
Do mais, recomendar a leitura dos textos complementares que, na medida em que nos vamos aprofundando na matéria vão ficando mais interessantes para a nossa compreensão.
No mais, espero ter contribuído para uma melhor compreensão do texto e espero vocês no próximo capítulo.
Abraço amigo!
Capítulo 10
Pensamento Pedagógico da Escola Nova
Temos visto, ao longo dos últimos capítulos a forma acelerada com que a alternância nos modelos educacionais tem acontecido. Vale salientar que não tem sido a educação quem impõe, por si, as transformações e sim a sociedade que vem num desenvolver incessante levando consigo, a reboque, a necessidade de sempre se estar preparando o “novo homem” que fará frente a essa evolução industrial. Portanto, quanto maior for o desenvolvimento, mais complexa se tornará a educação, com um detalhe que convém não esquecer e por isso esclarecer: até um dado momento a escola criava o saber que a sociedade ia reproduzir, mas após as Revoluções Francesa e Industrial a escola passou a andar a reboque da sociedade, não dava mais conta de antecipar conhecimentos e sim repassar às novas gerações o saber já construído anteriormente.
Por volta do início do século XX os pensadores da educação começam a perceber essa desvantagem da educação perante o avanço da sociedade e pensam em mudar o foco da educação que até aqui se mantinha no professor que sabia e repassava para o aluno que era considerado como não sendo portador de saber algum ao adentrar a porta da escola. O foco, a partir de então, passaria a ser o aluno e assim surge a teoria defendida pela Escola Nova. O meu entendimento desta necessidade de mudança dos rumos da escola tem a seguinte justificativa: a sociedade (em sua totalidade) avança mais rápido na construção dos saberes que a própria escola, logo, o aluno (parte integrante da sociedade) ao adentrar a escola já carrega em si algum saber. Isto, até certo ponto deveria facilitar a vida de quem está encarregado de levar o aluno ou estudante, a desenvolver seus conhecimentos e a adquirir outros novos que a escola possa proporcionar.
Aparentemente este seria o modelo ideal de educação se... Pois é, tem sempre o famoso “se”! A indústria e, consequentemente, o capital estão se desenvolvendo numa velocidade que continua a não permitir que a escola acompanhe, ou sequer tenha tempo de pensar novos saberes, é a sociedade do capital quem comanda as ações da educação através de seus representantes nos órgãos incumbidos de estabelecer as diretrizes educacionais que a escola deve seguir. Isto quer dizer, que ainda não será desta vez que a escola terá a tão sonhada autonomia de ensino e trabalho. Já sabemos, hoje, que nunca a teve e que talvez jamais a venha a ter. O trabalho, “enquanto protoforma do ser social” como nos ensinam vários estudiosos do marxismo, estará sempre adiante da escola, O trabalho, fruto da venda da mão de obra do ser humano aos capitalistas donos do dinheiro fácil, podem antecipar experiências que as limitações orçamentárias da escola não permitem desenvolver. Eis a razão de a escola andar sempre a reboque do saber construído no chão da fábrica.
A Escola nova vem então centrar o foco no aluno que precisa desenvolver aptidões para satisfazer a necessidade de mão de obra do capital. Quem pensa a escola nova não são apenas educadores, talvez muito mais os sociólogos e os filósofos que se fazem acompanhar pelos palpites dos psicólogos, pois é preciso “não traumatizar a criança” com imposições que podem causar danos irreversíveis nos jovenzinhos. E aí surge um caudal de intelectuais que vão ditar normas que estabelecerão as novas regras da educação.
De todos os que você vai poder encontrar no nosso livro-texto, o mais importante é, sem dúvidas, o americano John Dewey que se desloca à Europa para ali tomar ciência das novas metodologias de ensino que “estavam causando furor” na região, tal o número de adeptos “reformistas” que surgiram. Quando digo reformistas não me refiro apenas àqueles que transformavam a educação chamada de tradicionalista em Nova Escola, mas e também aqueles que dentro do próprio movimento escolanovista se propunha fazer alterações que julgavam ser mais importantes que as dos outros pensadores. Surge aí uma corrente contínua de mudanças na educação que passaram a adotar o nome pomposo de Tendências Educacionais. Mas não esquecendo John Dewey, vejamos que ele estimava que a “educação continuamente reconstruía a experiência concreta, ativa, produtiva, de cada um” (p. 143). Podemos dizer que se criava o pragmatismo educacional (que eu defendo em determinadas condições e não apenas pelo pragmatismo). Depois dele, muitos outros surgiram (até por imitação dos EUA, tão idolatrados nos países subdesenvolvidos). No Brasil No Brasil, claro, não foi diferente e tivemos nosso “especialista” em Educação Nova que foi fazer curso na América, com Dewey, e trouxe para nós a “última maravilha do mundo educacional”, falo de Anísio Teixeira. Mas pelo mundo sucederam-se e coexistiram mentes pensantes que só fizeram “baldear o coreto” de uma orquestra que estava tocando dentro de um determinado compasso marcado. Vem Kilpatrick, Decroly, Maria Motessori, Claparède, Piaget, Cousinet, Vigotsky, Skinner e até o nosso Paulo Freire. Cada um com sua visão de educação que expunha como nova metodologia sem, contudo, na maioria das vezes, discutir amplamente seus ideias. Apenas soltava a sua “descoberta” e o povo, ávido de novidades, pois principalmente as escolas particulares que começavam a pulular por todos os cantos, estavam sequiosas de chamar a atenção dos pais pagadores para deles tomarem algum dinheirinho fácil com a promessa de uma educação inovadora. Todos vocês devem lembrar das propagandas que ainda hoje estão aí a poluir nosso ambiente, oferecendo o primeiro lugar nisto ou naquilo, aqui e ali. Para mim, a educação se perdeu nesse momento. De lá para cá ainda não voltamos a ter uma educação de qualidade e, o mais importante, única. Casa escola faz do seu modo e, dentro dela, cada professor faz do modo que mais lhe agrada.
Não há como garantir uma educação de qualidade em tais casos. A Escola Nova foi, a meu entender, o passo em falso que a educação deu no rumo do desenvolvimento. Ao centrar o foco no estudante e deixar o resto à revelia, têm se construído métodos educacionais que mais deseducam que educam. Ao dizer isto não quero desmerecer, jamais, o esforço de cada um dos apontados e tantos outros que se dedicaram a estudar os novos caminhos da educação, apenas ponderar que não houve entre eles, como jamais houve na educação, um diálogo que contemplasse as ideias, os pensares de ideólogos, população em geral e, também, os professores. Tudo tem sido imposto e, no meu ponto de vista, nada que seja imposto garantirá o sucesso por muito tempo. Mas ainda há quem lhe chame de tendência progressista.
No próximo capítulo veremos mais uma tendência, a fenomenológico-existencialista.
Até lá!
CAPÍTULO 9
Pensamento Pedagógico Socialista
Terminei o capítulo anterior falando das diferentes visões de educação entre os pensadores dos séculos XIX e XX, principalmente no início deste último. Vimos no anterior como pensavam os positivistas, hoje vamos tentar conversar um pouco sobre o pensar socialista, também conhecido como progressista, em oposição ao conservadorismo anterior.
um fato curioso que chama imediatamente a atenção, quando se está atento a estas leituras, é o espaço de tempo em que esta teoria é desenvolvida por uma série de pensadores que seguiam (mais ou menos) a minha linha de pensamento. Assim, nós podemos perceber que quase todos nascem na segunda metade do século XIX e estendem seus pensares até a metade do século XX, não tão distante assim de nossos dias. Quando se atenta para este fato fica mais fácil compreender toda a problemática metodológica e até mesmo conceitual que atravessa a nossa educação, dita moderna ou aé mesmo pós-moderna como já defendem alguns pensadores.
Vejamos as principais oposições entre a educação positivista e a educação socialista para melhor percebermos o imbróglio que é esta jovem ciência chamada educação. Recordando superficialmente a educação positiva é aquela proposta pela burguesia, para a burguesia, já que o trabalhador precisava apenas produzir a riqueza da elite, por isso, quanto menos soubesse, mais facilmente seria explorado e exigido. Mas a população começou a reclamar por mais educação, principalmente no seio dos movimentos populares que foram surgindo. O povo queria a democratização da educação. É partindo desse princípio que a educação socialista se opõem, frontalmente, à educação burguesa.
Não creio ser necessário demonstrar que quem mais tem, mais pode. Logicamente a educação socialista não interessava aos setores capitalistas da sociedade e por esse motivo, ainda hoje ela é relegada ao fundo baú, ao esquecimento, ou se não tanto, pelo menos “esquecida” pelas autoridades constituídas.
Mas não vamos pensar que a educação socialista é recente (como tento mostrar nos primeiros parágrafos), pois já Platão, lá na Grécia antiga do a.C., sonhava com algo muito próximo da educação/sociedade socialista ao escrever sua obra “A República” (que recomendo a leitura, é um livro pequeno e fácil de encontrar), mas na verdade quem teve esse sonho bem mais delineado foi Thomás Morus, que em plenos século XV/XVI escreve a sua “Utopia” que também vale a pena ler. Morus defendia a abolição da propriedade, a redução da jornada de trabalho para seis (06) horas diárias e a educação deveria seguir os parâmetros da laicidade associada à co-educação. Ora essa co-educação só é possível, no meu entendimento, através do desenvolvimento do trabalho coletivo, no qual estejam envolvidos homens e mulheres, isto é, ambos os sexos.
Para defender a educação socialista nós temos um grupo grande e seleto de pensadores que vocês irão encontrar no nosso texto. Aqui para efeito desta releitura vou selecionar apenas alguns, deixando-lhes a responsabilidade de lerem o texto que fala sobre todos eles.
A primeira oposição à pedagogia positivista, Babeuf educou seus próprios filhos na ideologia da educação socialista. Dessa experiência ele escreveu o “Manifesto dos plebeus”, uma crítica à educação da elite. Mais tarde um outro pensador irá usar a mesma técnica mas não teve os mesmos objetivos: Foi o franco-suíço Jean Piaget, que também utilizou o estudo de seus filhos para desenvolver sua teoria da construção do conhecimento.
Vamos dar um salto no tempo e vamos começar a analisar alguns dos maiores pensadores da segunda metade do séc. XIX. Iniciamos, até para seguir a ordem apresentada no texto base, com Karl F. Marx (1818- 1883) e seu inseparável amigo F. Engels (1820-1895). Antes mesmo de adentrar ao estudo da proposta de educação é preciso fazer um esclarecimento: Marx jamais implantou o comunismo, como tanto tentam fazer acreditar a quem desconhece os fatos e, principalmente, a história. Marx defendia o Socialismo, como fórmula de se atingir a sociedade perfeita, à qual ele chamou de comunismo. Isto é diferente de se dizer que ele era comunista, pois, anotem, o comunismo NUNCA existiu em país algum.
Pois bem, o que essa dupla de pensadores socialista pensava da educação era algo bastante genérico (nunca fizeram um estudo específico da matéria) e o seu pensar está registrado no Manifesto do Partido Comunista, no qual defende “a educação pública e gratuita para todas as crianças”. Essa educação, segundo eles, deveria estar baseada nos seguintes quatro princípios (p.121):
1 – eliminação do trabalho das crianças nas fábricas;
2 – associação entre educação e produção material;
3 – educação política que leva à formação do homem omnilateral (Isto é a formação total do homem);
4 – a inseparabilidade da educação e da política e da articulação entre tempo de trabalho e tempo livre, isto é o trabalho, o estudo e o lazer.
Vale ressaltar que “Marx defende o trabalho infantil, mas insiste em que este trabalho (útil, de valor social) deva ser regulamentado cuidadosamente de maneira que em nada se pareça com a exploração infantil capitalista” (p.121). Esta concepção de trabalho infantil precisa ser muito bem explicada para não gerar confusões. Vejamos a concepção capitalista: a criança é um adulto em desenvolvimento e por isso pode desempenhar as mesmas funções. Isto a gente chama de exploração infantil, pois exigem a mesma produção, mas o pagamento é infinitamente menor que o do trabalhador adulto. A concepção socialista prevê que o jovem. A criança, possa desenvolver pequenos trabalhos, úteis à sociedade, durante um curto espaço de tempo por dia, na forma de estagio/experiência, pois os dois pensadores elegem o trabalho como princípio formador do ser humano. É na prática, no fazer, que acertando e errando, o homem vai aprendendo a fazer.
Mikhail BAKUNIN (1814-1876) propõe uma luta contra a educação elitista/burguesa que é, segundo ele, imoral.
Francisco FERRER GUARDIA (1859-1909) propõe uma educação racional sentada em quatro princípios, a saber:
1 – da ciência e da razão
2 – do desenvolvimento harmônico da inteligência e da vontade, do moral e do físico;
3 – do exemplo e da solidariedade;
4 – da adaptação dos métodos à idade dos educandos.
Lenin, na verdade Vladimir Ilyitch Ulianov, pois o nome de Lenin foi um pseudônimo que Vladimir adotou para se exilar fora da Rússia. Fundador de dois elementos básicos para o desenvolvimento de seus ideais: “o Partido Social Democrata Russo” e a “Liga da Luta pela Emancipação da Classe Operária”, Lenin defende uma educação centrada no processo de transformação da sociedade. Foi o primeiro governante de um país a colocar em prática os ensinamentos de Marx, a caminhar para um socialismo que foi exemplo para a Rússia e para outros países que quiseram se alinhar com o seu pensamento, visando a possibilidade de atingir o comunismo. Vale a pena ler as nove propostas de Lenin para a educação que ele apresenta no programa do partido que ele elaborou em 1917. Das nove medidas eu colocaria em destaque a 5ª, 6ª e 9ª. Façam uma leitura atenta e perceberão a importância delas, já que a meu entender ali repousam as bases das nossas lutas pela democracia na educação.
Moisey PISTRAK é um dos fortes defensores da educação proposta por Lenin e esperava que os alunos trabalhassem coletivamente (já falamos nisso) para superar o autoritarismo professoral da escola burguesa. Para ele, os “métodos escolares seriam ativos e vinculados ao trabalho manual (trabalhos domésticos, trabalhos em oficinas com metais e madeiras, trabalhos agrícolas, desenvolvendo a aliança cidade-campo)” (p. 123). Do meu ponto de vista, esta a melhor forma de o estudante que quer prosseguir no ensino superior ter melhores condições de escolher o curso que deseja seguir. Atualmente, com uma educação totalmente teórica/decoreba, o aluno entra na universidade sem saber se ira ter interesse algum na profissão para a qual irá receber ensinamentos.
O último socialista de quem irei falar é Antonio GRAMSCI. Defensor das ideias marxistas, Gramsci vai desenvolver toda uma teoria educacional para atingir os objetivos que o socialismo propõe. Assim ele coloca no papel (enquanto cumpre pena de prisão por ser “comunista”) o programa da escola única, também chamada de escola unitária que tem como base as premissas da democracia. Gramsci é mais um que se opõe às ideias de Rousseau e afirma que “a coação e a disciplina são necessárias na preparação de uma vida de trabalho para uma liberdade responsável. Mas opôs-se também ao autoritarismo irracional, numa relação entre governantes e governados que realiza uma vontade coletiva, a disciplina é assimilação consciente e lúcida da diretriz a ser realizada” (p. 125).
Ainda nesta mesma página (125), Gramsci vai nos dizer que: “No mundo moderno a educação técnica estreitamente ligada ao trabalho industrial, mesmo ao mais primitivo e desqualificado, deve constituir a base do novo tipo intelectual (...) Da técnica-trabalho, eleva-se à técnica-ciência e à concep´ção humanista histórica, sem a qual se permanece ‘especialista’ e não se chega a ‘dirigente’ (especialista mais político)”. Ora, o que fazemos nós neste nosso curso? Exatamente a primeira parte do enunciado gramsciano, sem atingirmos a segunda metade. Precisamos que vocês nos ajudem apensar em colocar em prática esta segunda fase do processo formativo. Finalmente, Gramsci vai nos dizer que “Uma vez que o trabalho é uma modalidade de práxis, esta é a própria atividade com que o homem se caracteriza e pela qual se apodera do mundo” (p.126).
E eu, recomendando a leitura de todo o texto para que tenham uma mais ampla visão do modelo socialista de educação, deixo a minha reflexão final:
Um país sem uma mão de obra especializada, qualificada e reflexiva jamais passará de um país subdesenvolvido, submetido ao poderio alheio. Vale lembrar que neste dia de hoje (17/03/19) o Brasil está cada vez mais (in)dependente dos Estados Unidos, dito o Império do Mal.
Capítulo 8
Pensamento Pedagógico Positivista.
Como vimos no capítulo anterior, o povo falou a sua palavra durante as revoluções que trouxeram para a sociedade novas concepções de liberdade, fraternidade e igualdade, por mais que não tenham ficado apenas no papel e participando num jogo de “faz de conta”. A elite não admitia que a pobreza tivesse acesso ao poder e portanto a chutou para escanteio. Foi a ação a que eu, também, denominei do golpe do século e até mesmo da humanidade.
Essa elite hipócrita criou uma concepção de burguesia e de uma educação que atendesse aos seus interesses. Se no começo das repúblicas se instalou uma dupla visão de sociedade, havendo uma divisão de classes, de um lado o socialismo popular e de outro um movimento burguês elitista (de um lado as ideias de Marx e de outro o que se passou a chamar de positivismo), logo a burguesia tomou a dianteira, pois era ela a detentora do capital, para comandar a sociedade em estruturação.
Auguste Comte, mais conhecido apenas por Comte, apoiado em “Saint-Simon de quem seguia a orientação para o estudo das ciências sócias e as ideias de que os fenômenos sociais como os físicos podem ser reduzidos a leis e de que todo conhecimento científico e filosófico deve ter finalidade o aperfeiçoamento moral e político da humanidade” (p.107), vai transformar-se naquilo a que eu nomeio de padrinho (aquele que antigamente escolhia o nome da criança) da Sociologia de cunho positivista. A sua principal obra, na qual expõe seus postulados é “O curso de filosofia positiva” editado lá nos anos 1830 a 1852.
Comte foi mais além, ao adentrar na idade, e tentou transformar a sua filosofia numa religião que se deveria opor àquela existente na Europa daquele tempo. Defendia também que a política tinha que ser transformada numa ciência exata. Para ele, toda ciência precisaria ser uma ciência positiva.
Segundo Comte “o positivismo representa a doutrina que consolidará a ordem pública, desenvolvendo nas pessoas uma ‘sábia resignação’ ao seu status quo”. Dito por outra palavras as minhas, críticas e até agressivas, o ser humano passava à condição de gado marcado, mas o pior, é que ia para a marcação e para o abate de cabeça erguida, ciente do dever cumprido. Não acredito haver necessidade que não eram aceites, pela ótica do Monsieur Comte, nenhuma doutrina crítica, como aquela que existia em seu opositor maior e contemporâneo Karl Marx.
Se você parar para olhar dois segundo para a Bandeira do Brasil notará nela estampada a maior insígnia do positivismo “Ordem e Progresso”, por isso não se admire com a situação quase permanente de domínio da elite podre neste país que ainda se rege pelas normas liberais/positivistas editadas em pleno século XIX. Certamente você já escutou alguém dizer que o Brasil está atrasado 200 anos. Pois a explicação está aí colocada sem querer, com isso, apontar para alguma ideologia.
Há quem diga que os filósofos são todos um tanto/quanto “lelés da cuca”, isto é, doidos. Comte parece não fugir a essa regra. Veja: ele se propõe a combater o espírito religioso, mas propôs a criação da “religião da humanidade”. Não sei, nem posso influenciar a pensar do mesmo modo que eu faço, mas aqui ele entra em parafuso e expressa aquilo que podemos considerar uma contradição: negar algo, para propor outro algo semelhante que apena substituía a religião da igreja pela religião da humanidade. Bem respeitemos a ideia do homem e façamos nossos julgamentos. Para conseguir que essa ideia dele desse certa, cria a lei dos três estados, que seria, segundo ele, a forma única de explicar tudo, inclusive a vida do ser humano. Recomendo que você leia as páginas 108 e 109 para ter uma ideia do que é essa lei dos três estados e como Comte imaginava que daria certo. Não deu, pelo menos no que diz respeito à educação, pois para ele a “educação formaria a solidariedade humana” (p.109).
A entrada das ciências na educação só vai ocorrer, gradativamente após a teoria de Spencer que veio a falecer nos primeiros anos do Séc. XX (1903). Segundo Spencer, “os conhecimentos adquiridos na escola necessitavam antes de mais nada, possibilitar uma vida melhor, com relação à saúde, ao trabalho à família, para a sociedade em geral” (p.109).
Aqui, após esta citação Spencer, preciso fazer uma análise que sinaliza que vou ser crucificado, mas não posso omitir-me de dizer o meu pensar. Considero-me defensor das teorias advindas da esquerda marxista, mas devo reconhecer que nem tudo da época e da teoria positivista era ruim. Algumas coisas se aproveitavam. Quem me acompanha nas minhas discussões sobre a qualidade da educação, sobre o fim precípuo da educação, sabe que eu defendo uma educação a posso chamar de pragmática, efetiva, utilitária e não este modelo que considero obsceno de inflar a cabeça das nossas crianças com conteúdos superficiais a tal ponto que, se você perguntar a um aluno concludente do ensino médio: “O que a escola te ensinou para a vida”? A resposta certamente vai ser “Nada”. Quando eu lei a proposta de Spencer (reveja-a algumas linhas acima), sou obrigado a concordar pelo menos em grande parte com a sua proposta.
Vale salientar que a sociedade estava em pleno desenvolvimento e principalmente estruturação. As classes sociais, entretanto, não se desfizeram ao longo de todo o percurso estruturante, pelo contrário, acentuaram-se. Se chamei a Comte de “padrinho da Sociologia”, precisamos falar do “pai” da criança: mais um francês (apesar do nome parecer um tanto alemão) Émile Durkheim. Este, sim, o responsável por um pedagogia positivista, para quem a educação não passa de um fato social, portanto resultante de uma prática social. Durkheim (como é conhecido), cria entre outras coisas o Direito penal que ainda hoje vige no Brasil (ou pelo menos a base do nosso Direito nasce no dele) e é o resultado do seu estudo sobre o método sociológico. Desse “método” nasce um conjunto de ideias pedagógicas que colocam em destaque o caráter conservador e reacionário da educação positivista. Isto por quê? Para os positivistas a liberdade social e política passaria obrigatoriamente “pelo desenvolvimento da ciência e da tecnologia sob o controle das elites” (p.110, grifo meu). Esse era o pulo do gato.
Espera! Era, não, é! Pois cada vez mais se configura no mundo um poder das elites reacionárias com total prejuízo para a classe menos favorecida de quem se arrancam até aos últimos direitos conquistados na luta de classes.
Vejam como as visões de sociedade e de ser humano diferem entre os famosos pensadores: Rousseau dizia que homem nascia bom e a sociedade o deturpava; Durkheim vai inverter essa ordem e dizer que “o homem nasce egoísta e só a sociedade (capitalista, logicamente) através da educação pode torna-lo solidário” (p.110, grifo meu).
Bem recomendo a leitura dos textos complementares do capítulo, destacando – ou dando maior visibilidade ao texto de Durkheim (pp. 113-115).
No próximo capítulo falaremos sobre o modelo socialista de educação.
Recomendo que assistam ao filme (facilmente localizado na internet chamado: GERMINAL com Gérard Depardieu e façam uma análise pessoal da sociedade dos fins do séc. XIX e início do séc. XX. Link para o filme (atenção às crianças que não podem assistir este filme)
https://www.youtube.com/watch?v=XFs0LCnW-lM
Até lá
CAPÍTULO 7
Pensamento Pedagógico Iluminista.
No capítulo anterior, o VI, já pudemos perceber a influência que a Igreja exercia sobre as populações e seus mandatários, isto é, sobre os poderes em cada país. Neste capítulo vamos compreender como através de um processo de criação de conscientização e de liberdade de pensar e agir, o homem entra num novo sistema que se opõe ao praticado até por volta do início do século XV que ficou conhecido como absolutismo.
Interessante esclarecer esse conceito de absolutismo, pois a partir dessa compreensão fica mais fácil entender o processo em que se encontra a sociedade do mundo conhecido. O absolutismo era um regime político em que o rei tinha plenos, totais, logo irrestritos poderes. Ele era o senhor de tudo e de todos. Apoiado na força da crença religiosa a que era submetidos os povos, era fácil decidir sobre qualquer assunto de modo favorável ao seu interesse e a negar tudo que se opusesse à sua vontade. Contribuiu para isso, vocês lembram, a erradicação da filosofia dos sistemas de ensino que a igreja disponibilizava para o povo. Mas Tomás de Aquino, permitiu novamente que o pensamento crítico fosse objeto de estudo, através da escolástica, e isso permitiu ao homem questionar esse poder absoluto exercido pelas monarquias e sua nobreza.
Como a história não pode ser vista como uma linearidade, é preciso entender que não há como afirmar que este ou aquele período histórico começou em tal ano e terminou naquele outro ano, não essas mudanças de pensamento são fruto de um processo de amadurecimento das ideias que iam surgindo na medida em que os povos passaram a ter maior ou menor liberdade de estudo e reflexão sobre a sua própria existência, inclusive. Por isso podemos dizer que o Iluminismo foi o resultado de um processo de crescimento da racionalidade que pregava a liberdade individual e descartava o que podemos chamar de obscurantismo religioso.
Os filósofos passaram a se debruçar mais sobre o já conhecido, em busca de novos conhecimentos e passaram à história como os iluministas: eles faziam a luz sobre tudo que estava escondido atrás de dogmas. Interessante notar que, para desenvolverem seus pensares, a maioria dos filósofos iluministas se propuseram a estabelecer novos sistemas de ensino e aprendizagem: uma nova educação. Entre os mais conhecidos estão os filósofos franceses, muito embora se tenha a contribuição de filósofos de toda a parte do mundo. Desses todos vamos retirar um que representa para os historiadores da educação, o surgimento de uma nova era: Jean-Jacques Rousseau com a escrita de obra máxima na questão educacional, chamada de “Emílio – ou da Educação”. Outras obras deste filósofo são igualmente importantes para a compreensão do seu pensar: “O contrato social” – “Sobre a desigualdade entre os homens”, são obras que quem puder pode e deve ler, principalmente no momento crítico que o nosso país atravessa.
A realeza continuava a querer impor seu desejo, mas o povo já não obedecia e questionava as ordens. Aos poucos o povo começo a exigir mudanças nas relações de poder e isso vai, mais tarde, lá em 1789 à famosa Revolução Francesa, que em conjunto com a Revolução Industrial – acontecida na Inglaterra em 1790 – vão dar origem às repúblicas, pondo, portanto, um fim ao sistema de reinados.
Mas vamos por partes: Rousseau torna-se um marco na história da educação ao demonstrar que a criança não era um adulto em miniatura e sim um ser com características e necessidades próprias. Para ele, a criança nasce ao, é a sociedade quem a perverte. E esta firmação transformará para sempre a ideia de criança e a partir dessa compreensão começam a surgir as mais variadas teorias educacionais. Por exemplo: na Alemanha surge a intervenção do Estado na educação criando a obrigatoriedade da escolarização e a criação de Escolas Normais. Todas essas ações culminam, na França, com uma Revolução pedagógica Nacional que prega a educação laica, gratuita e oferecida a todos.
Volto a dizer que a minha ideia não é apenas reproduzir o escrito de Gadotti, mas sim fazer alguns aportes que penso terem faltado. Nesse sentido, quando Gadotti fala da Revolução Francesa (RF) não aponta para aquilo que eu chamo de o maior golpe político já dado em toda a existência da nossa humanidade. Ele vai falar sobre as propostas educacionais que o povo estava a solicitar, da oferta do rei que a população rejeitou e, então, a RF “tentou plasmar o educando a partir da consciência de classe que era o centro do conteúdo programático”. O que não está escrito, de forma clara a ficar compreendido é que para a RF existir foi preciso a união da burguesia (que queria o poder) com a classe trabalhadora para que finalmente pudessem derrubar a Bastilha e atingir seus propósitos. A Classe burguesa, sozinha, não tinha força para dar o xeque mate ao rei. A força dos trabalhadores e camponeses equilibrou as forças e a burguesia conseguiu chegar ao poder depois de depor o Rei. Mas eu disse que teria sido o maior golpe: sim, foi, pois a burguesia que prometera “o céu” aos trabalhadores em troca do seu apoio, uma vez apossada do poder deu um tremendo fora nas classes subalternas que continuaram a ser exploradas, mas agora com maiores requintes. Hodiernamente os golpes são parecidos, quase cópias da RF, mas os meios de assalto ao poder são outros, bem conhecidos de todos nós: os complôs, o roubo, a compra e venda de favores (corrupção) e assim governos são deposto com todo o aparato legal no apoio.
Mas falei que foram vários os pensadores da época que intervenieram na educação: Froebel com seus jardins de infância; Kant, Descartes, Pestalozzi, Maria Montessori, Herbart, Hegel, Marx. Embora muitos deste pensadores sejam considerados progressistas, a burguesia implantou um liberalismo que tinha seu maior lema: “Liberté, Fraternité e Égalité”. Creio que todos sabem o significado, mas deixo a tradução: “Liberdade, Fraternidade e Igualdade”, só que estes conceitos só se aplicavam, na realidade à própria burguesia, uma vez que não havia uma hegemonia social e sim um fosso enorme que separava a elite da classe trabalhadora.
Uma boa recomendação: para aprofundar um pouco mais as teorias de alguns dos aqui indicados, e outros, leiam as famosas leituras complementares ao fim do capítulo. Há muita informação importante para se fazerem pontes entre um passado já longínquo e a atualidade. Eu costumo dizer que entre esses dois tempos históricos (passado e presente) não há, em educação, grandes diferenças. Aliás vou mais além, costumo dizer que temos no séc. XXI uma escola do séc. XIX, fazendo coro com outros pensadores da educação. Não evoluímos, na medida em que o capital se contenta com pouco, quando o assunto é educação, pois povo pouco elucidado é povo ordeiro e facilmente dominado, por não avançarmos na nossa educação. Não há interesse político em que isso aconteça.
CAPÍTULO 6
O Pensamento Pedagógico Moderno
Normalmente o mês de janeiro é o mês das férias dos professores. Não para mim. Apesar de me ter ausentado temporariamente das atividades mais complexas, estive ligeiramente afastado para realizar uma cirurgia de catarata. Tudo em paz, tudo tranquilo, vou tentar dar conta de tudo que há para falar e refletir neste comecinho de mês. Sem mais delongas, vamos ao que nos interessa.
Pudemos perceber, no capítulo passado que a “briga” religiosa acabou por trazer frutos para a sociedade. Não vou afirmar ou negar de eram frutos sadios, mas que eles surgiram, é um fato inegável. As grandes viagens marítimas também dão sua contribuição ao desenvolvimento de novos conhecimentos ainda em pleno séc XV. Você lembra disso, não é verdade?
Pois bem, dá para entender que com todos esses avanços sociais, surja uma separação entre os próprios cidadãos, visto que alguns começaram a impulsionar, a modificar e a conceituar novos meios de produção que diferiam daquele praticado até então – o feudalista. Começam a surgir associações de produtores, dando início ao sistema cooperativo. Gadotti diz, na p.76 que “a produção deixou de se apresentar em atos isolados para se constituir num esforço coletivo”. Quero pedir desculpas ao Mestre, mas não concordo plenamente com esta afirmação, por dois motivos principais: 1 – no feudalismo a família trabalhava unida na produção independente que era obrigada a vender pelo preço por ele estipulado, ao Sr. feudal, logo podermos dizer que havia uma plena colaboração dos feudalizados para atingir as metas necessárias ao pagamento do Sr. feudal e sobrar algo que pudesse minimamente sustentar a família por um certo período. 2 – no sistema cooperado, o processo se complexifica, pois todos devem produzir exatamente o que o patrão (burguês, que não trabalhava) ordenava e contra a qual pagava os serviços prestados. Ou seja, a exploração continua, só que agora de uma forma mais organizada.
A modificação do pensamento a respeito da igreja por efeito do desenvolvimento da razão e da admiração pela natureza, que podia ser transformada para melhor atender às demandas do homem, começam a colocar em xeque os ensinamentos religiosos, principalmente pela ação dos protestantes. Os séculos XVI e XVII vão ser um marco na transformação social e nos meios de produção. Desenvolve-se a astronomia (Giordano Bruno), Foi descrita pela primeira vez a circulação sanguíneo no home (William Harvey); Galileu Galilei constrói o primeiro telescópio com o qual descobre os primeiros satélites, mas quem vai colocar a casa em ordem foi Sir Francis Bacon que “propôs a distinção entre a fé e a razão para não se cair nos preconceitos religiosos que distorcem a compreensão da realidade, criou o método indutivo de investigação, opondo-o ao método aristotélico de dedução (....) (p.76). Portanto, podemos afirmar que foi Bacon quem instituiu o moderno método científico. No entanto foi René Descarstes que com seu famoso Discurso do Método, estabeleceu a questão ontológica da relação entre o pensamento e o ser. Por esse motivo recebeu o título de pai do racionalismo.
É importante, aos iniciantes, dar uma boa revisada sobre os quatro pilares do método científico de Descartes. De modo bem reduzido vou tentar apresentar aqui cada um desses quatro pilares, deixando ao leitor mais interessado o trabalho do aprofundamento:
1 – Jamais acolha algo como verdadeiro sem que você não o conheça evidentemente como tal;
2 –Procure dividir cada uma das dificuldades em tantos pedaços quantos lhe parecer ser possível, para melhor compreender a sua totalidade;
3 – Comece a resolver seus problemas a partir dos mais fáceis até chegar aos mais complicados;
4 – aponte seus resultados de modo enumerado e sistemático de forma a ter a certeza que não esqueceu nenhum pelo caminho.
O séc XVII fica conhecido como aquele do realismo e é o período em que começam a surgir as diversa linguagens no mundo. John Locke, por exemplo, questionava a utilidade do latim (tido como a linguagem culta) para os trabalhadores fabris. Para ele seria muito mais produtivo ensinar a esse povo a matemática e a mecânica, no que, convenhamos estava certo, não pelo fato em si da separação de trabalhadores e senhores, mas pelo fato de estarem começando a surgir as línguas próprias de cada nação, como tivemos, de início, o francês, o holandês, o espanhol, o inglês e o alemão. Locke tentaria entender melhor o ser humano, combate o inatismo, que afirma o caráter inato das ideias no ser humano, propondo a teoria que nada existe na nossa mente que tenha sido previamente planejado nos nossos sentidos. Combate o formalismo humanista. Ele vai desenvolver uma paixão pela razão, pelo conhecimento científico que considera o meio capaz de melhor aperfeiçoar o homem. Na sua empolgação, Locke vai cometer aquilo que mais tarde seria provado ser um erro: Ele afirmou que a criança ao nascer não passava de uma tábula rasa, um folha em branco na qual tudo precisava ser escrito.
É neste século que vamos ter o aparecimento da Didática magna, com João Amos Comênio (outros chamam de Comênius) que trará à luz do dia um novo método de ensinar, fácil e com rapidez. Para ele a organização do sistema educacional do ser humano deveria durar 24 anos. Essa duração seria dividida em 4 etapas: a escola materna; a escola elementar ou vernácula; a escola latina; a universidade. Não quero entrar no mérito da questão, mas deixo meu total apoio ao programa de Comênio. A juventude, por mais evoluída que esteja, não tem conhecimento real das diversas tarefas que cada profissão impõe, a tal ponto de poder escolher uma sem antes a ter experienciado. Este é um ponto de vista meu, ninguém é obrigado a seguir este meu pensamento, mas deixo-o expresso para aquelas pessoas que sei seguem este mesmo pensamento e muitas vezes não têm oportunidade de dizê-lo. Vale, contudo salientar, que esta comunhão de pensares entre Comênios e eu não é total, pois ele vai afirmar que “à academia só deveriam ter acesso os mais capazes”. Ora esta sentença não pode ter aceitação nos nossos dias, malgrado que o Sr, Ministro da educação do Desgoverno Bolsonaro venha justamente com essa proposta. É uma proposta excludente hoje como já foi naqueles tempos idos do séc. XVII.
Neste período o ideal de homem a ser preparado era aquele honesto, sábio, ter bom gosto e espírito nobre e galanteador (p.79), mas esta era a educação chamada de nobiliária, só para a nobreza, entre elas a escola de Weimar. Para o trabalhador foram criadas escolas públicas e boa parte delas chamadas de dominicais, nas quais a igreja continuava a dar as suas ordens. São exemplo, as Escolas dos Jesuítas e depois as Escolas Cristãs, fundadas por Jean Baptiste de La Salle. Estas últimas, as jesuítas e cristãs foram muito difundidas na América Latina. Podemos afirmar que estão na origem do nosso sistema educativo atual.
CAPÍTULO 5
Pensamento Pedagógico Renascentista
A Idade Média comporta, em si, um período de grande ebulição sobre qualquer ponto de vista que o observemos: o Renascentismo. O próprio nome lá nos indica mudanças depois de uma “morte” simbólica do feudalismo. Um período de grandes navegações – verdadeiros périplos – ao redor do mundo em embarcações com as quais eu não ariscaria a atravessar o rio que passa ali perto de Manaus/AM. Foi graças aos aventureiros que o mundo foi sendo conhecido e passou a ser “administrado” pelas grandes potências marítimas, na sua totalidade europeias.
O contato com outras civilizações, a expansão dos territórios dá origem a algo bastante questionado de nossos dias – o capitalismo comercial. Eu falei no primeiro momento em que falei do feudalismo que, mesmo tendo ficado conhecida na história como Idade das Trevas, a Idade média trouxe-nos muitas descobertas e realizações. Para navegar era preciso ter orientação precisa, que ajudasse os marinheiros a chegar a bom porto e isso implicou na descoberta da Bússola e no traçado de mapas que a cada dia se iam aperfeiçoando em função das maiores e mais distantes viagens que era realizadas. A imprensa surge nesse período, e esta talvez tenha sido a maior contribuição de todos os tempos para o processo educacional dos povos.
Mas nem tudo que era descoberto era aceito de bom grado, principalmente pela igreja católica. Ela não viu com bons olhos que Copérnico tenha afirmado que nem a terra nem Deus eram o centro do universo e sim o sol: dando início ao período do heliocentrismo. Mas todo este conhecimento não chegava à população menos abastada, pois só quem continuava a ter direito a uma educação de qualidade era a elite burguesa, ao trabalhador, homem do povo, restava, ainda, a educação oral, aquela transmitida dos mais velhos aos mais novos. No entanto, mesmo não sendo essa a vontade da elite e nem da imprensa, foi ela mesma imprensa quem permitiu que cada vez mais pessoas tivessem acesso ao saber já sistematizado até então e a uma velocidade bem maior que aquela que era desenvolvida pelos copistas e pelos tradutores.
O Renascentismo pedagógico “se caracteriza por uma revalorização da cultura greco-romana. Essa nova mentalidade (desenvolvida a partir da permissão de Tomás de Aquino de permitir a filosofia no modelo educacional que ele desenvolveu) influenciou a educação, tornou-a mais prática, incluindo a cultura do corpo e procurando substituir processos mecânicos por métodos mais agradáveis” (p.61) (O grifo é meu).
É interessante perceber como as teorias educacionais começam a surgir e a apresentar propostas educacionais diferenciadas. O importante talvez não seja exatamente conhecer cada uma delas, mas sim saber quais os fins que estavam escondidos, omitidos ou às claras (tal como hoje estão) a que se destinavam, principalmente a qual tipo de sociedade se pretendia formar com cada uma delas. Este não é p momento nem o lugar para fazer uma discussão sobre cada uma delas, mas deixo o alerta para quem for ler a obra, atente às propostas de cada um desses novos educadores que vão surgindo, pelo menos ali no eixo França, Suíça, Inglaterra, que é onde aparecem os maiores destaques. Não quero omitir a Itália de Montessori, nem a Espanha, ninguém, apenas dizer que o centro cultural do velho mundo era por ali.
De todas as teoria eu vou retirar apenas uma que surgiu um pouco mais tarde e se baseia numa frase de um pensador, mas que teve o condão de transformar toda uma forma de pensar e de ver a educação. Então, disse-nos Michel de Montaigne “as crianças devem aprender o que terão que fazer quando adultos” (p.64). Dizia mais Montaigne: “quem quiser fazer do menino um homem não o deve poupar na juventude nem deixar de infligir amiúde os preceitos dos médicos: ‘que viva ao ar livre e no meio dos perigos’” (p.67). No próximo capítulo veremos que um outro francês vai mudar significativamente este pensar que estava, digamos assim, em evolução.
Diferente, também, é a visão de Lutero que, depois da Reforma Protestante que chega a ser classificada por alguns pensadores, como Engels, “a primeira grande revolução burguesa” (p.64), que teve como consequência maior “a transferência da escola para o controle do Estado, nos países protestantes. Apesar de estar sob o controle do Estado ainda não pode ser chamada de pública com todas as adjetivações que hoje lhe emprestamos – pública, gratuita, laica, obrigatória e não se pensava ainda na universalidade da educação, ainda não se tratava de uma educação para todos. É lógico que a Reforma traz a reboque a Contra Reforma que busca recuperar a parte da sociedade que acompanhou Lutero. Para tanto há que fazer propostas que, pelo menos no ideário, suplantem as ideias protestantes.
De tudo se faz, de tudo se bota mão para tentar impedir o avanço do protestantismo. Inácio de Loyola, capitão do exército espanhol, cansado velho de guerra, se oferece à igreja para combater os protestantes e cria a Cia de Jesus – de onde surgem os jesuítas. Estes, com a força das armas e da Fé tentam impedir que o protestantismo se alastre pelo mundo. Mais tarde veremos como eles chegaram ao Brasil e a todos os domínios portugueses.
CAPÍTULO 4 (cont.)
Pensamento Pedagógico Medieval (cont.)
Dando continuidade ao estudo do medievo, é preciso esclarecer que, mesmo numa organização que levou trezentos anos para se estabelecer, nem todos pensavam da mesma forma, por mais que do ponto de vista religioso todos obedecessem a um mesmo Senhor. Temos o caso de dois pensadores distintos que fizeram escola na educação medieval: Santo Agostinho por volta de 350 a 430 d.C. e São Tomás de Aquino por volta de 1225 a 1274. É certo que essa diferença de quase um século entre os dois, é significativa e por isso mesmo merecer a minha atenção.
Sabemos que a evolução humana é um processo com ritmo próprio, mas sujeito ao “humor” da humanidade, isto é, dependendo das práticas sociais, a sociedade vai transformar-se mais ou menos lentamente. Essas transformações decorrem muito em função dos poderes instituídos, das políticas praticadas e das relações sociais estabelecidas. Entre essas duas datas prováveis (430=1270) a educação esteve sob o regime agostiniano: cruel, severo, elitista, com base na teoria de que “tudo era feito em nome da transcendência. Deus justificava tudo” (p. 52), a tal que não permitia que a filosofia fizesse seu trabalho: questionar. Foi um período longo que só voltou a ver a luz da razão filosófica com Agostinho que, embora praticasse uma educação centrada na religião, teve a influência dos povos árabes que vieram habitar a Europa, proporcionando uma troca de saberes e conhecimentos e a retomada do pensamento filosófico grego que os árabes nunca abandonaram. Dessa junção nasceu a escolástica, modalidade de ensino que embora de forma dura, permitia a influência/ questionamento da filosofia. O Homem passava a compreender que nem tudo se explicava apenas pela transcendência, a razão também mostrava os caminhos a seguir. Essa nova postura da humanidade perante o saber e a natureza traz consigo o germe das revoluções que aconteceriam mais tarde, pois a partir do momento que o homem teve oportunidade de questionar, interrogar, aprender mais que apenas aquilo que queriam que ele soubesse, as classes sociais começaram a ficar mais distintas e a lutarem por seus interesses.
Na minha leitura (e esta é a que aqui interessa, pois não estou resenhando a obra), Gadotti se alonga demasiado na descrição das diferentes religiões que se propalaram pelo mundo até então conhecido, expondo pontos de vista que mostram as oposições entre catolicismo e islamismo. É algo necessário ter algum conhecimento, concordo, mas não podemos deixar de reconhecer que não existiram apenas essas duas religiões. Onde ficaram, por exemplo, o hinduísmo, o budismo e tantas outras que estão aí presentes no tempo atual e têm origem milenar?
Eu queria chamar estes saltos históricos de “ontológicos”, mas não cabe o conceito, em todo caso, a educação vem sendo aqui apresentada com uma linearidade que não me agrada muito. A prova é que de um período tão rico, como foi a Idade Média (da qual parece que o Brasil ainda não encontrou a saída – apesar de continuar pobre) não temos maiores informações. O próximo capítulo já nos fala do Renascentismo que, na minha apreciação, é o momento em que acontece a transição entre a Idade Média e a Idade Moderna, mas esse será nosso assunto no próximo encontro.
CAPÍTULO 4
Pensamento Pedagógico medieval (parte 1 Feudalismo)
Falar do Medievo, da Idade Média, do Feudalismo ou da Idade das trevas parece, à primeira leitura, um período fácil de ser descrito e analisado. Não é. E por que não é? Vamos à argumentação:
1 – De todos os períodos históricos já vividos (e conhecidos) este é o mais longo, pois a depender de historiadores pode ter entre 15 a 18 séculos de extensão. Não é coisa pouca. Por isso resolvi dividir em partes.
2- Por outro lado, é muito mais abordado como Feudalismo, que como Idade Média, embora se refiram ao mesmo período, muito embora, a depender da análise, possam ter o mesmo significado ou significados diferentes.
3 – Também está posto um pouco a critério dos historiadores de chamar ao período de “idade das trevas”.
A primeira questão que se coloca é sobre o momento em que se inicia esse período histórico. Alguns autores apontam o Séc. III d.C. como aquele que marca esse início. Outros apontam o nascimento de Jesus. Sobre a questão das trevas, há que dizer sobre que aspecto se fala, pois se formos pelo lado das descobertas científicas, a período foi pródigo, mas se a nossa visão se detiver apenas no aspecto mais sócio religioso, aí sim, podemos chamar de um período não só das trevas como do temor Basta lembrar dos horrores praticados pela Santa Inquisição, em nome de um Deus, para termos uma ideia do que foi esse período durante o qual o mundo conhecido, principalmente aquele considerado ocidental, sofreu sob a mão pesada da igreja,
O nosso texto começa afirmando que “A decadência do Império Romano e as invasões dos chamados ‘bárbaros’ determinam o limite da influência da cultura greco-romana” (p.51). Para mim, estes saltos no tempo, deixando entre si espaços vazios me assusta, como pesquisador e estudioso que penso ser. Vejamos. Saímos de Roma sem sequer abordar o nascimento do Cristo (como já disse na reflexão sobre o segundo capítulo) e agora nos é apresentada uma nova categoria de seres – a quem Gadotti e não só ele – chama de bárbaros sem ao menos nos dizer quem são, de ondem veem, e o que querem. Ora, esses famosos bárbaros são os povos vindos das mais variadas regiões do mundo: da chamada Escandinávia – ou países da Europa setentrional – povos orientais e das regiões não dominadas pela igreja católica na África. Digamos de forma mais objetiva que todo aquele que ainda não tivesse sido submetido aos valores impostos pela igreja católica eram considerados bárbaros. E foram esses povos, que vinham em busca de conquistar novos territórios, quem ajudou na construção de uma nova sociedade e uma “nova força espiritual se sucedeu à cultura antiga, preservando-a, mas submetendo-a a seu crivo ideológico: a Igreja Católica” (p.51).
Como é que surge essa Igreja católica? Não vamos discutir religião, não vamos defender valores individuais, vamos tentar e apenas brevemente perceber os fatos históricos que até aqui são apontados. Primeiramente, a ganância dos romanos de dominarem o mundo; em seguida a vontade deles de hegemonizar a linguagem e o pensamento de todos os povos conquistados; a opulências dos Césares os faz perderem o controle do Império, e vem a ameaça de quedo. Aquele sentido de união precisa ser reforçado a partir de algo em comum que não se conseguia: uma crença, uma religião tentasse unir todos os homens em toro de um pensamento só. De um momento para o outro surge o Salvador que viria trazer a dominação de todos aqueles que estavam sob o domínio do Império Romano. Foram precisos 300 anos, não foram 300 dias, para erguer a Igreja Católica. Foi um período suficiente para se escreverem as regras e estabelecer os castigos a quem se opusesse aos romanos católicos. O povo, crédulo dos milagres, dá progressão à ideia (Uma brincadeira minha neste momento: e é porque ainda não havia o whatsapp). A igreja Católica começa a assumir o controle de tudo sobre o mundo conhecido, principalmente pela difusão da chamada “pedagogia do medo”: “ou você cumpre com o exigido ou vai arder num caldeirão de óleo fervendo! Ou você está do nosso lado ou terá que ser purificado pelas chamas do fogo sagrado da Inquisição”. Essa foi a Igreja católica dos primeiros anos da Idade média. Daí, a nomenclatura da idade das trevas, do medo, do pavor, da obediência cega.
O texto traz uma parte interessante quando fala do Salvador e nos diz que: “Do ponto de vista pedagógico, Cristo havia sido um grande educador popular e bem sucedido” (p.51). Um pouco mais adiante revela que “Ao mesmo tempo, dominava a linguagem erudita e sabia comunicar-se com o povo mais humilde. Essa tradição (e eu pergunto qual é a tradição a que o autor se quer referir) contribuiu muito para o sucesso da igreja e dos futuros padres> Saídos sobretudo dos meios camponeses e trabalhadores, os sacerdotes católicos dominam até hoje uma dupla linguagem – popular e erudita – com maior influência popular do que os intelectuais, que dominam o discurso erudito” (idem).
Sem querer polemizar, questiono: Como alguém consegue ter acesso ao eruditismo sem passar pelo popular? Qual é a mágica?
Para falar sobre Idade Média e Educação é preciso compreender o sistema social existente e praticado, pois só assim se pode perceber a educação. O sistema praticado – o feudalismo – consistia na delegação de poderes a senhores (que ficaram conhecidos como Senhores Feudais) que “gerenciavam” partes das terras do reino, a troco de pagarem tributos ao rei. Alguns eram nobres de família, outros comerciantes que se deram bem na vida e conseguiram comprar algum título baixo de nobreza, Visconde, Barão e ainda alguns guerreiros que se sobressaíram nas lutas que eram travadas durante as guerras, como recompensa. Esses senhores feudais eram os donos de tudo na terra que lhes era entregue para gerenciar. Eram eles que casava, batizava, julgava, condenava/absolvia, ordenava o preço das mercadorias, dizia quem devia fazer o que, quando e onde. Era o dono das terras, das máquinas, das sementes e das mercearias em que os trabalhadores se abasteciam. O sistema de trabalho era aquele conhecido como meeiro. Metade do dono da terra, metade de quem produz. Mas aí o Senhor feudal, cobrava os impostos, pelas sementes, pelas máquinas, pelo aluguer das casas, queria a metade da produção e vendia a preço escorchante os alimentos que o trabalhador necessitava para sobreviver na entre safra. Resultado final: ao prestar contas o trabalhador ainda ficava devendo ao senhor final e isso gerava uma dívida que o proletário precisaria pagar. No ano seguinte, a cena se repetia. Toda a família trabalhava na terra do Sr. Feudal.
A educação, religiosa, do homem medieval começa com a pregação dos apóstolos que visavam antes de mais, angariar novos adeptos da doutrina. Para isso foram criadas escolas catequéticas, as escolas monacais. Essa educação era apenas para os filhos da elite burguesa que colocavam seus filhos sob a proteção de um preceptor, normalmente um monge ou um padre, que ensinava ao iniciado ou noviço todos os segredos da igreja (recomendo ver o filme “O nome da rosa” de Umberto Eco. A igreja católica em acordo com o Império torna a religião católica a oficial em todos os seus domínios. E se você já ouviu falar de “Aparelhos Ideológicos de Estado” conceito atribuído a Althusser, aprenda que foi o Império Romano-católico quem primeiro se utilizou dessa prática.
No nosso texto, à página 52, chama atenção o seguinte: “SÃO PAULO (a.C –entre 62 e 68) procurou universalizar o cristianismo, unindo gregos e romanos”. Vejamos se eu entendi: São Paulo, já antes do nascimento de Cristo, pregava o cristianismo. É bem isso que eu entendi ou há alguma “barrigada” nesta fala de Gadotti? Será que o cristianismo já era algo estudado antes de existir? Eu vou dar um crédito ao autor e acreditar que se trata de um erro de digitação.
A educação para o povo “consistia na educação catequética dogmática (não poderia ser diferente), para o clero uma educação humanista e filosófica” (p.52). Mas atenção. Para “as classes trabalhadoras nascentes não tinham senão a educação oral, transmitida de pai para filho: só herdavam a cultura da luta pela sobrevivência. As mulheres, consideradas pecadoras pela igreja, só podiam ter alguma educação se fossem ‘vocacionadas’ para ingressar nos conventos femininos. Vale dizer que foi neste período histórico que surgiram as primeiras universidades: Paris, Bolonha, Salerno, Oxford, Heidelberg, Viena e Coimbra.
(a seguir...)
CAPÍTULO 3
Roma, império romano, romanização, fim do império.
Este capítulo tem, para mim, um sentido ambíguo e essa ambiguidade vai surgir ao longo da análise e dela lhes darei parte.
Os romanos, tanto ou mais que os seus ora rivais, ora parceiros, gregos, também não eram muito chegados ao trabalho manual. Tal tarefa estava destinada aos escravos que, em Roma, eram em bem maior número que na Grécia, tanto assim que a riqueza de um patrício era medida pela quantidade de escravos que possuía. Já que falamos em homens, podemos falar da composição da sociedade que, na verdade era bem simples: Os patrícios – homens de bens e de riquezas; os plebeus, que não eram ricos e nem escravos, chamemos de classe média (comerciantes e pequenos proprietários); e os escravos.
Chama a atenção para quem faz uma segunda leitura de um livro de História, ou de História da Educação, o fato de as mulheres nunca estarem incluídas nas estruturas sociais. Na Grécia ainda se aborda um pouco a questão da mulher, mas apenas e somente numa situação: a de que ela queira se tornar militar. Esta é uma das ambiguidades do texto, principalmente quando não se fala da mulher romana que é, na verdade, quem educa o filho até a idade de ser tomado em carga pelo Estado. Voltaremos a isso um pouco mais adiante.
Antes de continuar queria desfazer uma dúvida que frequentemente assola nossas estudantes. Vejamos, na Grécia o ideal educacional era a paideia – ou a formação total do indivíduo; em Roma, o ideal de educação era a humanitas. Este ideal está muito próximo de um outro conceito que tem grafia semelhante, mas sentido bastante diferente – humanitário. Ora, a humanitas nada mais era que uma adaptação da paideia grega à realidade romana. O nosso autor, deixa de frisar, por exemplo a fortíssima influência que os gregos tiveram sobre Roma: os gregos foram, por exemplo, dos maiores educadores que passaram por Roma. O grego chegou a ser a língua falada pela elite romana. Este é outro ponto que considero de uma certa ambiguidade para quem vai fazer um estudo das duas civilizações. No entanto não se pode afirmar que Roma não teve seus educadores famosos, dentre todos escolho dois: Marco Terêncio Varrão, pela ideologia pregada: pietas, honestitas e austeritas. Ainda de nossos dias estas deveriam ser as três bases de uma boa educação. Infelizmente, nem lá esse ideal se manteve, a humanitas virou um verdadeiro humanismo individualista e, principalmente, capitalista. O segundo destaque que faço é Marco Túlio Cícero, cujo ideal educacional era fazer com que todo estudante “reunisse as qualidades do dialético, do filósofo, do poeta, do jurista e do ator” (p.43).
Falemos de romanização, pois os romanos, muito mais que os gregos, foram aquilo a que eu chamo de expansionistas. Conquistadores, eles saíram em busca de novas terras, atingindo a parte ocidental e norte da Europa, assim como estenderam suas raízes até ao hoje chamado Oriente Médio, não esquecendo todo norte de África. Por isso mesmo e merecidamente recebeu o nome de Império Romano. Para atender a demanda de unificação do latim naqueles lugares que agora eram seus domínios, os romanos precisaram que o Estado tomasse conta da educação e da formação de supervisores-professores. Podemos então afirmar que a escola (schola) e a profissão de professor têm origem na Roma Antiga e o pai dessa ideia foi Marco Fábio Qintiliano que defendia que “O estudo deveria dar-se num espaço de alegria (schola). O ensino da leitura e d escrita era oferecido pelo ludo-magister (mestre do brinquedo)”. Considerando as três fases da educação romana posso afirmar que, se comparado com a atualidade, não houve grandes mudanças na educação, talvez e tão somente na quantidade de conteúdo.
Agora, um dos pontos mais ambíguos que encontro neste ponto do livro é a falta de análise, por mais superficial que seja, do surgimento do cristianismo, suas origens e a sua relação com o propalado fim do Império Romano. Mas antes de prosseguir, uma pequena explicação, novamente, para que não se levantem vozes opositoras gratuitas: defendo a obra de Gadotti. É fato. No entanto, permito-me alguns questionamentos que, espero, ajudem quem quiser se aprofundar na obra a entender um pouco mais os meandros dela. Não faço críticas ao autor, pois tenho plena consciência que dar conta da História da Educação em apenas uma obra, e abranger um espaço de tempo assim tão longo, e quantas vezes obscuro, não é obra para qualquer artesão, tem que ser um artista, mesmo. Por isso, sabedor que sou que o próximo capítulo já vai explorar mais a ação da igreja católica, é que eu afirmo que sinto aqui a falta dessa reflexão inicial sobre o seu surgimento. Eu sugiro a leitura de textos diversos reunidos numa só obra chamada “A educação através dos textos” de Maria da Glória de Rosa, editora Saraiva 1971, pois nessa obra você encontrará muitos dos escritos dos pensadores da época que podem ajudar a compreender melhor a relação entre o Fim do Império Romano e o surgimento do catolicismo.
Para saber mais sobre a vida da mulher romana é preciso fazer outras leituras. Adianto que ela era o braço direito do homem, sobre quem recaia a educação da criança. No entanto, o homem romano estava ocupado produzindo para o crescimento do Estado e para o bem-estar da família e não podia realizar a tarefa de educar permanentemente seus filhos. Assim, até à idade de aprender uma profissão junto de seu pai, era a mãe a encarregada de educar os meninos. As meninas permaneciam sob a guarda materna, enquanto os filhos eram treinados pelo Estado para serem bons guerreiros e conquistadores. Podemos fazer um comparativo com duas cidades Roma e Atenas: as discrepâncias eram exatamente a mesma que entre Atenas e Esparta. A educação Romana era utilitária e militarista. Por outras palavras: não estavam muito preocupados com a intelectualidade.
Bom estudo. Próximo capítulo abordaremos o pensamento pedagógico medieval.
Capítulo 2
Hoje sinto-me melhor, a visão clareando a cada dia que passa, por isso arrisco escrever algumas linhas sobre o pensamento pedagógico grego na visão de Gadotti..
Começo dizendo que, para mim, os gregos tiveram a ideia mais original da história da humanidade até chegarmos a eles, quando se perguntaram o que é o homem. Hoje eu teria respondido ao primeiro grego que me perguntasse: “Meu amigo, entenda, um gato é um gato, um homem é um bicho”! Com sua filosofia ele entenderia, certamente a minha colocação e, claro que os meus leitores também vão entender. Vejam só o gato não passa de um animal irracional que reage instintivamente a qualquer ameaça de forma agressiva: mordida, unhada, mas tudo em nome da autodefesa. O homem, ah! O homem! Pensa de noite para aprontar de dia! Está permanentemente em vias de “aprontar alguma” para cima de alguém, uma triste realidade que faz de nós verdadeiros predadores de nós mesmos, ou como dizia Plauto, “o homem é o lobo do próprio homem”.
Para mostrar essa realidade, os gregos criaram duas cidades às quais não podemos chamar de antagônicas, mas que precisamos ver como uma sendo o oposto da outra para responderem quem é o homem. Essas duas cidades todo mundo conhece, ou já ouviu falar, pelo menos: Atenas e Esparta. Para a primeira, a quem já vou alcunhar (isto é dar uma alcunha (sobre nome) – Mãe da Democracia – o homem deveria ter por principal virtude, como primeiro objetivo, a sua liberdade. Ora isso só se consegue através da racionalidade argumentativa, digamos um bom orador. Já na segunda, Esparta, prevalecia a ideia do homem guerreiro, lutador, portanto precisava cuidar muito bem do físico e aprender os ardis da luta.
Neste ponto nasce uma pequena discussão – apenas por falta de esclarecimento, nada mais – que vamos tentar desenrolar. Dizer que Atenas é a Mãe da Democracia parece-me um tanto pesado, considerando que ela, em si não era nada democrática e já veremos porquê. O que se pode dizer, isso sim, é que foi ali que nasceram –embora não tenham sido desenvolvidos – os ideais de Democracia. Veja, como podemos chamar de democrata a uma cidade onde apena e tão somente os homens livres tinham total acesso aos bens materiais ou imateriais da cidade? Contraditório, não é verdade? Então, faltou neste texto do Gadotti, essa explicação para que não restem dúvidas: o conceito de Democracia foi criado na Grécia, em Atenas, mais precisamente, mas ali não foi praticada, pois a Grécia vivia dividida em classes antagônicas que não justificam a titulação de “Democrática”: Títulos de “Homens Livres” e de “Escravos” não se coadunam com democracia. Logicamente que essas duas condições e as intermediárias impunham um modelo de educação todo “especial”.
Por falar em educação grega é preciso entender que qualquer que seja o modelo, o ateniense ou o espartano, visava a formar competidores que os tornasse os melhores do mundo conhecido, além de deterem sempre o poder e o controle sobre as classes chamadas por eles de inferiores: escravos, mulheres, anciões e crianças das restantes regiões que compunham aquele país. Arrisco a dizer que foram os gregos quem em primeiro lugar, dos tempos conhecidos – utilizou a educação como aparelho ideológico de estado. Não quero ser injusto com Gadotti quando digo, aí acima, que faltou ele falar... Ele falou, mas de uma forma que deixou dúvidas. Vejamos o que ele nos diz na p.30: “A educação ensinava poucos a governar. Se ensinasse todos a governar, talvez apontasse um caminho para a democracia, como entendemos hoje. Entre iguais pode existir o diálogo e a liberdade de ensino, e isso acontecia penas entre os gregos livres”. Não sei se é este meu espírito contraditório quem me obriga a questionar: quer dizer que entre diferentes não pode haver diálogo? Ou será antes que não pode haver conchavos? É um pouco nesse sentido que me fica a noção clara de falsidade conceitual quando se fala em democracia “só para iguais”. A isso eu dou outro nome menos pomposo e bem mais agressivo, eu chamo de ditadura, quando todos “os iguais” se juntam para um mesmo fim, que normalmente (nos dias que correm) não passa de roubalheira e de negociatas com fins escusos.
Ainda nesta mesma p.30, diz-nos o autor que a Grécia criou o ideal mais avançado de educação daquela época – a paideia – que consistis na coexistência de duas culturas: uma a que chama de social e outra a que chama de individual, numa “influência recíproca”. Vou então chamar-lhe de “dualismo cultural pessoal” e tentarei traduzir este novo conceito da seguinte forma: “se estás em sociedade comporta-te como um ser social, quando estiveres só, contigo mesmo, ou com os teus, tens liberdade de te comportares como um animal”. Será isso que significa essa dualidade cultural? Gadotti procura me negar dizendo que a Grécia criou “uma pedagogia da eficiência individual e, concomitantemente, da liberdade e da convivência social e política”. Bem, no meu entender, fraco e de aprendiz, ele disse a mesma coisa que eu disse, só que com palavrinhas mais estudadas e retiradas do Aurélio. A tal da meritocracia vem de longe.
Vocês, meus leitores, vão me perdoar pela cara de pau que eu tenho em fazer a seguinte afirmação: “A bagunça que hoje vivemos na educação é legado deixado pelos gregos”. Vamos à argumentação: A Grécia foi um país “rico em tendências pedagógicas” (p.30). Creio que só com esta afirmação, Gadotti já me ajuda a defender a minha afirmação, pois hoje vivemos em mar sem fim e sem fundo de tendências e nenhuma leva a um mínimo sucesso educacional. Mas vamos em frente! Na mesma página está posto que Pitágoras via a harmonia entre o universo e a vida humana; Isócrates centrava o ato educativo na linguagem e na retórica, contrariando Platão; Xenofontes foi o primeiro a pensar na mulher, embora impusesse limites ligados aos interesses do marido, como também queria Sócrates. Depois parece que se esquece tudo e passamos ao mundo grego de Sócrates, Platão e Aristóteles.
Esse triunvirato tinha como maior apoiador educacional o poeta Homero e seus escritos. Para ele Homero o seu ideal de homem era ser sempre o melhor. Ser sempre superior aos outros povos, às outras pessoas, aos outros iguais e “para isso é preciso imitar os heróis, rivalizar”. Quis fazer este destaque apenas para colocar em discussão uma realidade atual, que se verifica na nossa educação. Vejamos: O nosso estudante, não vem para a sala de aula para aprender. (Sei que me vão arrancar a pele do couro, mas arrisco assim mesmo). O nosso aluno vem em busca de “nota”, a melhor de todas da sala, de preferência, mesmo que essa nota seja conseguida através de pesca, ou mais simplesmente da famosa decoreba que, depois de vomitada num pedaço de papel é esquecida a todo sempre. Se o vizinho tira alguns décimos a mais que ele, está armada a confusão. Não pode! Se o professor opta por fazer uma auto avaliação, o aluno que mais cabulou o período inteiro faz uma análise positiva da sua atuação e diz alto e bom som: “Prof, eu não mereço nota inferior a 10 e quero ver essa minha nota lá no painel”! Dá vontade... de engolir os livros que falam de Homero e sua rivalização, se é que me entendem.
Mas Homero também tinha ideais de patriotismo, desse mesmo que pode dar origem ao nazismo e ao fascismo. Este tipo de pensamento se aplicava muito bem a Esparta, a defensora da pátria, na qual homens e mulher que o desejassem serviam aos interesses da nação até à morte. A educação física das mulheres tinha conveniências e inconveniências. As conveniências podem ser listadas como: boa saúde e corpos prontos a serem mães de filhos sadios, além de poderem enfrentar lutas em caso de necessidade. As inconveniências aparecem principalmente em virtude da musculatura que a mulher desenvolve, uma chamada masculinização que leva os homens a se sentirem atraídos por outros homens. Na Grécia a pederastia – hoje chamada de homossexualidade – era algo comum e aceito pela sociedade, inclusive como um dos elementos do processo educacional.
Em Atenas predominava aquilo a que eles chamavam de humanismo pois “buscava-se o conhecimento da verdade, do belo e do bem”. Platão sonhou um dia com a república democrática e nesta a educação teria um papel importante a desempenhar. Ele foi dos primeiros a pensar num ensino público. E ele nos mostra como deve ser cada fase do ensino. Destaco, de todos, o ensino dito superior no qual se sobressaía a retórica e a filosofia. A retórica estava dividida em três fases que ainda hoje deveriam ser bastante trabalhadas: a) procurar o que vai dizer ou escrever; b) por em certa ordem as ideias assim encontradas; c) procurar os termos mais apropriados para exprimir essas ideias. Ou, de uma forma resumida, a retórica compõe-se de invenção, disposição, e a alocução (p.31). Os estudos da filosofia compreendiam seis tratados: a lógica, a cosmologia, a metafísica, a ética, a política e a teodiceia. Não se se proposital, ou por esquecimento não vejo neste conjunto de áreas de estudo da filosofia e estética, tão cara aos nossos gregos. Creio ser este um campo a pesquisar de bastante interesse, ante a arte grega que nos tem chegado até nossos dias e o legado encontrado um pouco por todo o mundo, deixado por artistas gregos. A menos que eles tenham deixado de estudar a estética das obras, pois elas representam trabalho artístico, e os gregos não consideravam o trabalho algo digno do homem livre. Será esse o motivo?
Sócrates (vamos deixar aqui uma pergunta que tem rodado por aí, não é de minha autoria, e tenho para ela uma resposta que também não desejo declinar aqui: será que ele existiu mesmo?) defendia o lema do “conhece-te a ti mesmo” e está na origem da teoria de Paulo Freire com sua ideia de “educação bancária”, pois dizia Sócrates que “não se aprende a andar nesse caminho com o recebimento passivo de conteúdos oferecidos de fora, mas com a busca trabalhosa que cada qual realiza dentro de si” (p.32). Para Platão só “Com o passar gradativamente da percepção ilusória dos sentidos para a contemplação da realidade pura e sem falsidade [...] existe educação, a única coisa que o homem pode levar para a eternidade”. Para Aristóteles, defende “de modo realista que as ideias estão nas coisas, como sua própria essência[...] e são “expõe três fatores principais que definem o desenvolvimento espiritual do homem: disposição inata, hábito e ensino”. Dos três, dizem os entendidos, Aristóteles era o mais esclarecido, aquele que mais escritos deixou. Uma de suas obras trata do caráter do homem, desde criança até a idade adulta. Um verdadeiro tratado de psicologia que eu procuro resumir em uma frase pronunciada séculos depois por um filósofo francês, Jean Jacques Rousseau: “O homem nasce bom, a sociedade é que o corrompe”.
Com isto chegamos ao final do segundo capítulo. Assim que houver um pouco mais de melhoras da visão comprometida pela cirurgia (falei nisso ontem), teremos a leitura interpretativa do terceiro capítulo. Desejo boas leituras, muitos questionamentos se for o caso, boas reflexões e vamos em frente!
Até lá!
CONTINUANDO
Hoje prossigo com minha releitura do texto de Gadotti. Quem leu a primeira parte (que está aí imediatamente abaixo) já sabe das intensões que me movem nesta análise. Considerando que não entrei em maiores detalhes no primeiro texto pretendo hoje declinar mais alguns detalhes, por exemplo sobre a primeira leitura que fiz do texto. Ela aconteceu por uma obrigatoriedade da disciplina que me foi ofertada para ministrar quando entrei no Departamento de Pedagogia da universidade onde leciono/lecionei (estou afastado por motivos de saúde, daí essa ambiguidade na minha situação profissional) que era Fundamentos Históricos da Educação (FHE). Confesso minha paixão pela área, principalmente quando imagino que o amor maior é, em todo caso, a discussão da Formação Docente. No meu ponto de vista estes dois assuntos se imbricam de tal forma que só podem ser comparados com a teoria e prática – uma não existe sem a outra.
Precisava criar um acervo literário capaz de me suprir as carências de conhecimento que tinha aa respeito do assunto a ser desenvolvido. Esta obra de Gadotti é uma delas – hoje são muitas – e no seu conjunto têm me facilitado a vida, principalmente a quando da minha inclusão nos programas de pós-graduação stritu sensu (mestrado e depois doutorado), principalmente neste último, pois a área de concentração foi, exatamente, a História da Educação.
Mas voltando à primeira leitura, é possível confessar que foi algo um tanto apressado (dadas as contingências) e a necessidade de utilizar outros textos complementares para dar conta da tarefa que me havia sido estabelecida. Neste momento da minha existência em que me encontro afastado por questões de saúde, aproveito todo o tempo livre para realizar novas leitura e rever alguns “velhos amigos”. O fator tempo é algo importante para nós, docentes, pois só com ele temos condições de examinar, refletir e discutir (se necessário), o material ao qual exporemos nossos futuros companheiros. Quero novamente frisar que não estou, de modo algum fazendo comparações entre os diversos autores que tratam da temática (História da Educação), o que pretendo fazer é justamente refletir sobre o ponto de vista de Gadotti a esse respeito.
Hoje trago, então o Capítulo 2 que nos fala sobre o Pensamento Pedagógico Grego. Mas antes preciso retornar um pouco ao final do capítulo 1, quando Gadotti nos traz um texto sobre a Educação Hebraica. Esta uma vantagem que só a releitura permite: retomar nosso caminho. Nesse texto, depois de ter abordado o primitivismo, somos apresentados ao Talmude. Para os judeus, mais que a Bíblia, o Talmude é o livro sagrado que contém “os preceitos básicos da educação judaica: as tradições, doutrinas, cerimônias, etc.” (p.26). Isto significa que nem todos aceitaram a existência de Cristo, esse Cristo bíblico, que outros povos adotaram como sumo sacerdote.
Fazia minha leitura quando meu oculista me surpreendeu e me chamou para fazer minha cirurgia da catarata. Coisa simples para quem tem uma visão dita normal, por mais comprometida que seja. Explico: a minha visão não era normal, pois sou monocular. Por outras palavras desde 1981 s´0 enxergo pelo olho direito, já que o esquerdo perdeu suas funções num acidente de trabalho besta, que teve graves consequências. Por isso, por mais besta que um assunto lhe pareça, tratando-se de saúde, não negligencie, é perigoso. Então, como monocular, quando fui fazer a minha cirurgia fiquei completamente cego. Pessoal uma experiência e tanto.
Entrei na clínica vendo tudo, com alguma dificuldade, é certo, o oculista não me receitou novas lentes na penúltima visita anual que lhe fazia (aconteceu no mês de abril) e me pediu para eu ir me preparando para fazer a cirurgia no mais para o final do ano. Ele me chamaria. Dia 14 novembro recebo ligação pedindo para comparecer ao consultório do oculista para marcar cirurgia. Feito. Marcado o dia 18 de dezembro. Pois bem, ao sair da clínica trazia um tampão no olho direito me cegando por completo pois o olho esquerdo, é perdido.
Pequena complicação. Entre abril e dezembro se supunha que não houvesse alterações na minha visão, pois todo meu problema se resolvia com eliminação do astigmatismo (dificuldade de ver ao longe), ao fazer o exame final, antes da “passar a faca”, o médico descobre que eu tinha desenvolvido miopia. Precisava, pois, escolher: ver bem ao longe e menos bem ao perto, ou vice-versa, ver bem ao perto e menos bem ao longe. Sou motorista, claro que escolhi a primeira opção: ver bem ao longe.
O problema que agora se coloca: Estou vendo até briga de lagartixa no país vizinho, mas tenho muita dificuldade para ler e escrever, até mesmo aqui no PC. Resumindo e já apresentando todas as desculpas do mundo e mais uma: vou suspender por uns dias, pelo menos enquanto a coisa não se firmar mais, as minhas publicações. Espero que compreendam. Na medida do possível irei tentando ler e escrevendo alguma coisa, mas sem aquele compromisso que me fizera que era (aqui só para nós, que ninguém precisa ficar sabendo disso!)reler uma obra por mês.
Então, aquele abraço e até logo, mais!
UM PROPÓSITO:
O homem não tem a capacidade mental de guardar tudo que lê. Fato. Do que lê, nem tudo interpreta com a devida atenção, deixando-se, muitas vezes, conduzir por seu estado de ânimo e até por interesses momentâneos. É possível que uma releitura, por tempos de calmaria, de maior tranquilidade afeto-emotiva-profissional possa garantir uma outra interpretação. Considero-me um desses seres capazes de reverter uma opinião pessoal, mediante argumentos que antes (talvez pela ligeireza da leitura) não percebi. Esta página oferece-me a possibilidade de me recompor, de me transformar (ou não) diante da retomada da leitura de alguns textos ou obras completas.
Um camarada, ex-aluno, pediu-me por empréstimo, a obra: História das ideias pedagógicas de autoria de Moacir Gadotti. 8ª Ed. São Paulo: Ática, 2002. Um destes dias ele me devolveu. Andou aqui por cima da mesa que me serve de birô por uns dias e, de repente, diante da precipitação das notícias sobre educação e reformas, e transformações, e negações, e deteriorações e tudo que de mau vêm fazendo à educação, tive vontade de rever alguns pontos que o professor Gadotti nos traz na sua obra, para confrontá-las com a atualidade, não para criticar o professor, mas para analisar o transcurso da história que nos disseram que "sempre retorna como farsa ou como tragédia (Marx, O 18 de brumário).
Vamos a alguns fatos preliminares (já que não vou esgotar o assunto de uma só vez):
Capitulo 1 - O pensamento pedagógico Oriental (Sobre Educação e seus fins)
Quando se fala na aprovação da BCCN elevam-se as vozes para dizer que estamos voltando aos mais diversos anos (cada um aponta um ano) do século XX. É grande a gritaria embora as ações sejam quase nulas, pois não considero as ações praticadas via internet (as minhas não mais nem menos que as dos demais) com nulas, ou sendo um pouco generoso, de pouquíssima monta na batalha que inicia uma nova guerra por uma educação que já se dizia de qualidade. É certo que não se dizia qual qualidade, mas já se anunciava uma melhoria na dita. Neste meu fazer tentarei mostrar que estamos recuando alguns séculos.
Pois bem, por isso retomo Gadotti e logo no prefácio, Antônio Joaquim Severino nos dá o tom com o qual devemos executar a melodia, quando nos diz "[ a educação é mais vivenciada do que pensada]". Se estabelecermos um placar colocaria desde já Gadotti 1 x 0 MEC (muitos "especialistas da educação). Pela (re)leitura que faço compreendo que a educação não se adquire - ela é inata no ser humano e se desenvolve através das práticas sociais que este desenvolve. Logo, o que é preciso pensar, seriamente, são as práticas sociais a que tanta gente chama de cultura. É ainda Severino quem nos diz que essa prática desse dom inato é a peça fundamental para distinguir o homem dos outros animais. Sejamos diferentes, superiores, mas todos, por igual.
Na apresentação, afirma o nosso autor (como vou passar a chamar Gadotti, para não ficar a repetir o seu nome e obra a cada citação, apontando apenas a página) que "partindo de um ponto de vista crítico, praticamos uma teoria interrogativa, dialética" (p.14). Extraio da obra este período para declarar, antes de prosseguir com minha leitura, que eu professo uma outra visão: prefiro teorizar uma prática, do que praticar uma teoria. Do meu ponto de vista há mais dialeticidade em questionar uma prática, principalmente a minha, que em questionar uma teoria que - por seu nome já se impõem como algo pensado por outrem, sem que eu tenha participado do processo de construção, logo sem aprendizado. Lembremos as palavras de Severino que, como no parágrafo anterior, nos fala da "vivência" da educação. Ora, só vivenciada e praticada, a educação pode evoluir com a "[...] evolução da própria sociedade" (p.16) e a partir daí, então, ser teorizada.
Há, na página 17, uma afirmação que mexe demasiado com meu modo de analisar a educação, ou, como o nosso autor lhe chama, o pensamento pedagógico. Diz ele, textualmente: "O pensamento pedagógico (...) se processa, com as ideias e os fenômenos, de forma dialética, com crises, contradições e fases que não se anulam, nem se repetem". Parto do princípio que há aqui uma contradição ao que Marx nos ensinou. Veremos isso mais adiante. Adentremos ao primeiro capítulo, mas deixemos claro que na apresentação há ainda outros pontos sobre os quais poderemos regressar, com o desenrolar da análise.
Retomemos a minha visão sobre práticas e teorias. Ao abrir o primeiro capítulo, o autor, quando analisa a educação primitivista, afirma textualmente: "O pensamento pedagógico surge com a reflexão sobre a prática da educação, como necessidade de sistematizá-la e organizá-la em função de determinados fins e objetivos". O que ele quer dizer, com estas palavras? Na minha releitura, ele confirma a minha opinião: primeiro a educação surge como uma prática que precisa ser reorganizada, sistematizada para atingir determinados fins, isto é, depois de praticada precisa ser teorizada. Consolido meu pensar e continuarei a defender esse ponto de vista quando falar, por exemplo e de forma determinada, na formação docente. Mas ele vai mais longe e afirma na (p.21) que: "A educação primitiva era essencialmente prática, marcada pelos rituais de iniciação". Cabe i questionamento: E hodiernamente, a educação não passa pelos rituais de iniciação? A mamãe mão está diariamente mostrando ao seu bebê como se diz papai, mamãe? Depois não se preocupa em ir ensinando os primeiros passos? Não lhe ensinará que se devem respeitar os mais velhos? Que se deve ir à escola para aperfeiçoar e alargar o seu conhecimento (e não para ser educado, como muitos pensam)? Creio que esses são rituais que repetirão até o término dos tempos. E não é não só o homem quem pratica esses rituais, basta olhar com mais carinho a vida no reino animal dito irracional - lá estão eles: a mãe leoa ensinando o leãozinho a correr atrás de uma peça de caça, a águia demonstrando ao filhote como se levanta voo a galinha siscando o chão para que o pintinho aprenda a encontrar bichinhos para comer.
Ai surge a escola - instituição que tanta tinta tem feito correr. Para o nosso autor, por exemplo, "A escola, como instituição formal, surgiu como resposta à divisão social do trabalho e ao nascimento do Estado, da família e da propriedade privada". Faço a minha tradução, simples e objetiva: a escola nasceu 'graças' ao capitalismo. No primitivismo, ao qual também chamamos de comunismo primitivo "a escola era a aldeia" (p.23) e os aldeões eram os professores. É a divisão do trabalho (eu prefiro dizer que é a divisão desigual da renda) quem vai impulsionar o surgimento dessa escola. A ganância, o desejo de acúmulo de riqueza de uns em detrimento dos outros fez surgir essa instituição que já nasce dualista, pois tem que preparar uns para servir aos outros. Por isso nos diz o autor que "a história da educação [...] constitui-se num prolongamento da história das desigualdades econômicas" (p.23).
Este primeiro capitulo se encerra com um poema de Lao-Tsé que no seu último verso diz: "Assim só pode o chefe de Estado dominar sem violência" (p.25). A aprovação dessa vergonha (sentimento pessoal e irreversível) que é a BCCN é uma violência imprópria de um chefe de Estado, contradizendo Lao-Tsé.
No próximo texto trarei as análises sobre o Capitulo dois que nos fala sobre o pensamento pedagógico grego que, como todos sabemos, é um dos pilares que sustentam o pensamento pedagógico/educacional dito ocidental.
Até lá!