Por que fazemos

Novembro 2020

Um mês altamente atípico

 

O dia de amanhã estará plenamente carregado de simbolismos que não deveríamos esquecer, mas sempre enaltecer e por eles lutar até à morte, se tal fosse necessário. Só dispostos a fazer esses sacrifícios poderemos considerar-nos como “seres-humanos”, no pensamento de Sartre.

 

Muito mais pela convivência e com a leitura de algumas de suas obras, num momento em que a intelectualidade não me pesava muito na consciência formativa, que por estudos mais aprofundados realizados depois dos 45 anos de idade, considero uma grande parte de mim como sartreana. Afinal, sempre acreditei que “o que somos é o que fizemos com aquilo que fizeram de nós” e que a nossa “liberdade é uma condição intransponível do homem, da qual, ele não pode, definitivamente, esquivar-se, isto é, o ser- humano está condenado a ser livre e é a partir desta condenação à liberdade que o homem se forma. Não existe nada que obrigue o ser humano agir desse ou daquele modo”.

 

Voltando ao dia de amanhã, domingo, 15 de novembro, data em que se comemora a Proclamação da República, esconde um fato histórico do passado que poucos reconhecem/recordam: o Golpe de Militar Estado aplicado naquele dia. Ora, não fosse suficiente a importância daquele golpe, em si, o governo atual resultante de outro golpe, porém mais aviltante, decide, de uma forma planejada, dar uma demonstração de força burra ao colocar a data das eleições justamente nesse dia. Um golpe celebrado dentro de outro golpe e que será usado como “punch” lá no ano de 2022.

 

Para voltar ao Sartre, seria bom que o nosso maior representante lesse um dos poemas de Bertold Brescht, “O analfabeto político” ou tivesse a capacidade de ler parte da obra de Sartre “As palavras” (tradução do título em Francês ”Les Mots”) e conseguisse absorver 10% de outra obra – uma peça de teatro, do mesmo autor, intitulada “huis clos” (em português: “Entre quatro paredes”) e encerraria com a leitura de o ‘L’être et le neant”, (tradução livre: “O ser e o nada” - que também representa o Poder), mas creio que estou exagerando na dose para um ser inumano.

 

Resta ao povo lembrar que este é um mês enormemente atípico: ontem foi sexta, 13 – hoje é sábado 14 e amanhã será novamente domingo 13.  Entendam... Cada um é “crente” à sua maneira. Eu prefiro a comida na mesa do pobre que a “guerra com os isteitis” para a qual nem pólvora o país tem, mas há quem acredite em milagres! Esses pastores têm um rebanho muito bem domesticado.

 

Interessante como estas minhas últimas palavras refletem uma realidade vivenciada na África, continente onde estive em três teatros de guerra, na qual o nosso inimigo, armado de facão e foice, corria para cima das nossas tropas bem armadas e gritavam (por exemplo) “Viva a Angola! Nós morremos aqui, mas vamos nascer outra vez bem ali”. E tome bala!

 

Assim está um governo sul americano do qual o respetivo presidente disse que depois das palavras tinha a pólvora. Qual é mesmo o estado mental dessa pessoa?

 

Para não carregar muito nas tintas, fico por aqui.

Amanhã um pouco mais tarde que agora, já teremos uma resposta aos fanfarrões de plantão.

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Insatisfação. Esta é a palavra-chave que nos move na direção do diferente. Não, do diferente, não, do justo!

É isso. A insatisfação com os níveis alcançados pela nossa educação que deve ter "(...) por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho" (Art. 2º da Lei 9.394/96) vem fazendo com procuremos criar meios de alcançar essa determinação que, infelizmente e pelas vias usuais não está sendo satisfeita. E por que não está? Aí é toda uma outra briga, toda uma outra história, todo um outro contexto que pode ser resumido numa frase que "pesquei" ali no facebook: "A Casa Grande não quer que a sanzala aprenda a ler".

Se todo cidadão tem direito à educação de qualidade, como é afirmado na nossa legislação, por qual motivo esse direito não é respeitado? A quem interessa que assim seja? Quem leva vantagem e quem são os prejudicados? Até quando? Se há recursos (isso, falo de dinheiro grande!) para oferecer o ruim a custo de um bom, por qual motivo não se oferece um ótimo por um preço que não chega a atingir aquele que é praticado para oferecer o péssimo? Onde está a falta de vontade?

São tantas as questões que se nos apresentam que chegamos a perder o fio condutor da discussão, tamanho o labirinto em que nos colocam para que desistamos de pensar além daquilo que eles (homens de negócios da educação) querem que pensemos. Mas somos resistentes e por isso mesmo, entre as muitas balas que vez por outra nos atingem as asas, conseguimos elevar nossos voos e perceber de outro patamar toda a problemática da escola.

Temos (o GE de que faço parte como mentor) conseguido perceber que outras práticas são possíveis além daquelas impostas com o fim de nivelar por baixo o saber da população brasileira que vota e elege ogros que depois lhe intimida através do estabelecimento de leis que apenas a eles favorecem. Estamos em início de ação, mas já começamos a vislumbrar no horizonte ainda distante os primeiros raios de uma luminescência que poderá nos clarear por bastante tempo, assim consigamos produzir força suficiente para que ela suba não só o suficiente, mas cada dia mais, acima da linha do horizonte. Não é algo impossível, principalmente quando se tem um objetivo e os instrumentos necessários para alcançá-lo.

É esse caminho que estamos tentando, paulatinamente trilhar. É esse o objetivo que norteia nosso fazer pedagógico ao proporcionar a aprendizagem aos nossos aprendentes. Já temos bons exemplos que nos mostram resultados afirmativos que só vêm contribuir para que acreditemos, cada dia mais na possibilidade da prática do justo, do devido, do direito.

Conhecemos a experiência (que é nossa luz a brilhar no fim do túnel) do Projeto Âncora, lá na cidade de Cotia, no Estado de São Paulo. Hoje, porém, ficamos a conhecer dois casos específicos localizados dentro de nosso contexto, dentro das nossas fronteiras cearenses. Sentimos orgulho por esse sucesso e esperamos, em breve, nos juntar a essa realidade e engrossar os índices do sucesso.

Para que possam entender um pouco mais qual o sucesso que referencio, o o tipo de educação que queremos alcançar, ver superar (não, não é uma corrida para ver quem pode mais!), considerando o conjunto de situações contextualizadas, deixo-lhe a notícia veiculada pelo MEC após estudo de diversas avaliações.

É o Ceará em destaque (apesar de podermos dizer que esses números são pequenos face à realidade representada pela universalidade do aparato educacional de que dispomos.

 

http://g1.globo.com/educacao/noticia/2015/12/pesquisa-aponta-segredos-de-seis-escolas-publicas-de-excelencia.html